VIDEO: LULA RECLAMA DA PRESENÇA DE “NEGRO SEM DENTE” EM FOTO DO GOVERNO

 


Um episódio lembrado pelo presidente Lula em evento recente voltou a colocar em pauta discussões sobre racismo, comunicação institucional e imagem do país no exterior. Ao relatar uma situação ocorrida em seu primeiro governo, ele mencionou que recebeu uma peça publicitária preparada por um ministério para ser apresentada fora do Brasil. A campanha trazia a fotografia de um homem negro sem dentes ao lado de uma mulher branca sorridente. A reação presidencial foi de rejeição, por considerar que a escolha não traduzia de forma adequada a imagem do povo brasileiro.


A lembrança do episódio acabou desencadeando grande repercussão política e social. Para críticos, o comentário de Lula teria sido ofensivo, por destacar características raciais e físicas de forma negativa. Para apoiadores, no entanto, o relato não atacou a pessoa fotografada, mas sim a insensibilidade da equipe de comunicação que escolheu um retrato capaz de reforçar estigmas sociais e raciais, especialmente em um contexto internacional.


Nas redes sociais, o episódio se espalhou rapidamente, dividindo opiniões. Grupos contrários ao governo apontaram racismo no discurso, enquanto defensores destacaram que o objetivo foi chamar atenção para a necessidade de cuidado com a forma como a população é representada. O caso também mobilizou ativistas e lideranças do movimento negro, que se dividiram entre críticas à fala e interpretações de que se tratava de uma denúncia contra o preconceito embutido na peça publicitária.


A situação jogou luz sobre o papel das imagens na comunicação institucional. Uma fotografia oficial não se limita à estética: ela carrega mensagens simbólicas que podem reforçar desigualdades históricas ou, ao contrário, promover novas formas de representação. A escolha da foto de um homem negro sem dentes, contrastada com uma mulher branca sorridente, foi interpretada como a repetição de estereótipos que associam a população negra à pobreza e à exclusão.


Como consequência prática daquele episódio, o governo lançou o programa Brasil Sorridente, em 2004. A política pública ampliou o acesso a serviços odontológicos, especialmente em áreas periféricas e comunidades vulneráveis. Ao retomar essa lembrança, Lula associou o desconforto causado pela imagem a uma resposta de governo que buscou transformar um problema simbólico em ação concreta para melhorar a vida de milhões de brasileiros.


Mesmo com essa perspectiva, a forma como a fala foi reproduzida gerou controvérsia. A oposição explorou o episódio como sinal de racismo por parte do presidente, enquanto seus aliados sustentaram que ele denunciava justamente a reprodução de preconceitos na propaganda institucional. O caso acabou alimentando a polarização já presente no debate político nacional.


O episódio reforça como a comunicação governamental demanda atenção especial em um país atravessado por desigualdades raciais e sociais. A escolha de imagens não é apenas questão de estética ou design: ela pode impactar a autoestima coletiva, reforçar visões preconceituosas ou contribuir para a construção de uma identidade nacional mais inclusiva. Nesse contexto, a polêmica em torno da fotografia vai além da fala de Lula e expõe a disputa permanente sobre como o Brasil deseja ser visto por si mesmo e pelo mundo.

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