O avanço da inteligência artificial (IA) tem transformado a forma como as pessoas lidam com suas emoções. Ferramentas interativas baseadas em IA, como os chatbots, têm sido utilizadas por um número crescente de usuários em busca de apoio emocional, companhia e até aconselhamento terapêutico. A capacidade dessas tecnologias de simular conversas humanas, captar o tom das mensagens e adaptar respostas conforme o contexto tem gerado uma impressão de empatia e acolhimento, ainda que se trate apenas de padrões linguísticos aprendidos por meio de grandes volumes de dados.
Esse fenômeno tem levantado preocupações entre especialistas e órgãos reguladores. O Conselho Federal de Psicologia (CFP) identificou um aumento nas consultas relacionadas ao uso da IA com finalidade terapêutica, tanto em plataformas desenvolvidas com esse objetivo quanto em sistemas que passaram a ser usados para esse fim pelos próprios usuários. Em resposta, criou um grupo de trabalho para discutir critérios técnicos e éticos que possam nortear o uso seguro dessas tecnologias no campo da saúde mental.
A principal preocupação gira em torno da ilusão de cuidado proporcionada pelos sistemas de IA. Apesar de parecerem empáticos, esses modelos não pensam ou sentem como seres humanos. Eles operam com base em dados e padrões de linguagem, o que os torna incapazes de compreender plenamente a complexidade emocional de quem busca ajuda. A consequência pode ser a geração de conselhos equivocados, ou até mesmo prejudiciais, sobretudo para pessoas em momentos de crise.
Além dos riscos emocionais, há também ameaças à privacidade. Muitas dessas plataformas não são regidas por normas específicas de proteção de dados no contexto da saúde, o que pode levar ao uso indevido ou vazamento de informações sensíveis compartilhadas pelos usuários. Casos de exposição não autorizada já foram registrados, acendendo o alerta sobre a necessidade urgente de regulamentação e maior transparência sobre o uso e armazenamento desses dados.
Por outro lado, especialistas reconhecem que as tecnologias digitais podem ser aliadas valiosas se forem bem projetadas. Exemplos como o chatbot do sistema de saúde pública do Reino Unido mostram que, quando desenvolvidos por profissionais qualificados e com base em estudos científicos, esses sistemas podem facilitar o acesso a serviços de saúde, especialmente entre populações mais vulneráveis.
O desafio, portanto, não é eliminar o uso dessas ferramentas, mas garantir que elas estejam alinhadas com princípios éticos, técnicos e legais. O uso indiscriminado ou mal orientado pode gerar um falso sentimento de acolhimento, afastando as pessoas da ajuda profissional necessária. Ao mesmo tempo, ferramentas bem planejadas podem complementar os cuidados em saúde mental, especialmente em um cenário global de escassez de profissionais e alta demanda por atendimento psicológico.
Com o crescimento da popularidade dessas tecnologias, o debate sobre seus limites e potenciais impactos se torna cada vez mais urgente. A IA pode ser uma ferramenta poderosa no apoio ao bem-estar emocional, desde que seu uso seja consciente, seguro e regulado por normas que protejam o usuário de riscos invisíveis.
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