O QUE LEVOU IMPÉRIO DE RELÓGIOS SUÍÇOS A “TOMBAR”

 


O Swatch Group, gigante suíço do setor relojoeiro, vive um dos momentos mais delicados de sua história. Dono de marcas consagradas como Omega, Longines e Tissot, o conglomerado acumula resultados negativos expressivos, refletindo um cenário de queda na demanda e dúvidas crescentes sobre sua governança corporativa.

Nos últimos 12 meses, as ações da Swatch acumularam desvalorização de 24%, mas o declínio é ainda mais acentuado quando se observa um período mais longo: desde 2014, os papéis caíram mais de 75%, saindo de um pico de quase 600 francos suíços para 147,85 atualmente. Essa trajetória arrastou o valor de mercado da empresa para 7,7 bilhões de francos suíços.

O lucro da companhia também foi severamente impactado. Em 2024, o resultado líquido despencou 74%, alcançando apenas 219 milhões de francos suíços. A queda na rentabilidade se soma a um contexto de desafios externos e internos que colocam em xeque a capacidade do grupo de se reinventar em um setor cada vez mais competitivo.

Um dos principais fatores externos é a queda na procura por relógios suíços tradicionais, especialmente os analógicos. A mudança de comportamento dos consumidores, a ascensão dos smartwatches e o esfriamento da demanda no mercado chinês — historicamente um dos maiores compradores de luxo — contribuem para a retração. Porém, muitos analistas e investidores apontam que os maiores problemas do grupo estão dentro de casa.

O Swatch Group é comandado por membros da família fundadora desde sua origem. Atualmente, Nick Hayek, filho do fundador Nicolas Hayek, ocupa o cargo de CEO desde 2003. Já sua irmã, Nayla Hayek, preside o conselho administrativo desde 2010. Juntos, os irmãos detêm 44% dos direitos de voto, o que lhes garante forte controle sobre os rumos da empresa.

Nos últimos anos, a gestão centralizada e resistente a mudanças passou a ser alvo de críticas. Declarações públicas de Nick Hayek, como a sugestão de que os investidores insatisfeitos deveriam procurar outra empresa para investir, alimentaram o descontentamento de acionistas. A falta de adaptação às novas demandas do mercado e o conservadorismo da administração têm sido apontados como entraves ao crescimento e à inovação.

Nesse contexto, o grupo se prepara para uma importante reunião do conselho de administração, marcada para quarta-feira (21). O encontro promete ser tenso, já que alguns investidores estão pressionando por mudanças estruturais. Um dos protagonistas dessa movimentação é Steven Wood, fundador da GreenWood Investors, que, mesmo detendo apenas 0,5% das ações, busca uma cadeira no conselho.

Wood representa um grupo de acionistas que defende maior profissionalização na gestão e mais transparência nas decisões estratégicas. A expectativa é que a reunião seja palco de cobranças por uma nova postura da diretoria diante da prolongada crise que atinge a companhia.

Com um mercado em transformação e a concorrência de marcas tecnológicas cada vez mais presentes no pulso dos consumidores, o Swatch Group precisa decidir se continuará ancorado no passado ou se buscará novas direções para reconquistar seu espaço. A quarta-feira poderá marcar o início de uma nova fase para o tradicional grupo suíço.

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