Apesar da leve alta de 0,3% registrada em março, o setor de serviços no Brasil encerrou o primeiro trimestre de 2025 com retração de 0,2% em comparação ao trimestre anterior, segundo dados do IBGE. O desempenho representa a primeira queda trimestral desde o início de 2023 e reforça os sinais de enfraquecimento gradual da atividade econômica. A XP Investimentos destacou que esse resultado marca o fim de uma trajetória de crescimento contínuo, evidenciando uma inflexão no comportamento do setor.
A queda no trimestre, no entanto, não deve comprometer o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB), que tem previsão de crescimento impulsionado pelo setor agropecuário. O resultado oficial do PIB do primeiro trimestre será divulgado no final de maio, mas economistas já estimam uma expansão de 0,5% no período.
Março trouxe alívio momentâneo com o avanço em segmentos como serviços prestados às famílias, que tiveram alta de 1,5%, e transportes, com crescimento de 1,7%. Ambos foram beneficiados por fatores sazonais, como o Carnaval. No entanto, esses ganhos não foram suficientes para compensar a queda de janeiro, evidenciando uma recuperação parcial.
Alguns segmentos apresentaram sinais de enfraquecimento. Os serviços de informação e comunicação, por exemplo, caíram 0,2%, após uma sequência de crescimentos superiores a 1%. Já os serviços profissionais, administrativos e complementares desaceleraram, passando de um crescimento de 1,3% para 0,6%, enquanto os serviços de apoio às atividades empresariais registraram retração de 0,5%.
Esses movimentos refletem possíveis mudanças no padrão de consumo das famílias. Com maior rigidez nos preços e limitações orçamentárias, há indícios de que o consumo esteja se concentrando em serviços mais essenciais, reduzindo a demanda por categorias mais diversas ou de caráter opcional.
Apesar do cenário moderado, algumas projeções para o ano permanecem positivas. O setor de serviços pode crescer até 2% em 2025, sustentado por estímulos governamentais como o aumento dos gastos públicos, a liberação de recursos do FGTS e incentivos ao crédito. Economistas também apontam que o mercado de trabalho formal e a massa de rendimentos seguem fortalecendo a demanda interna, especialmente no primeiro semestre.
Ainda assim, há preocupações quanto ao segundo semestre. A expectativa é de que a combinação de inflação persistente, juros altos e deterioração das condições financeiras reduza o ritmo da economia nos meses seguintes. Segmentos mais cíclicos do setor de serviços podem ser os primeiros a sentir o impacto.
No que diz respeito à política monetária, os dados atuais não devem influenciar mudanças imediatas na taxa de juros. O Banco Central mantém cautela, e a ata do último Comitê de Política Monetária (Copom) adotou tom neutro, sem sinalizações claras sobre futuros cortes na Selic.
A análise do setor de serviços, portanto, mostra um país em fase de transição econômica. Apesar de alguns impulsos pontuais e resiliência do mercado de trabalho, os sinais de desaceleração sugerem a necessidade de atenção redobrada sobre os próximos dados para confirmar se o ritmo de crescimento está, de fato, perdendo fôlego.
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