POR QUE O MEGAPROJETO DE TRUMP FOI REJEITADO POR DEPUTADOS DO PRÓPRIO PARTIDO NA CÂMARA?

 



O ambicioso projeto tributário do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, enfrentou um revés significativo nesta sexta-feira, 16, ao ser barrado no Comitê de Orçamento da Câmara dos Representantes. A medida, que previa a extensão dos cortes de impostos adotados durante o primeiro mandato de Trump, não avançou devido à oposição de um grupo de republicanos linha-dura que exigem cortes mais profundos em programas sociais, em especial no Medicaid, o sistema de saúde voltado para cidadãos de baixa renda.

Apesar do apelo direto do presidente para que os parlamentares do seu partido se unissem, cinco dos 21 republicanos do comitê votaram contra o projeto, juntando-se aos democratas. A votação expôs uma clara divisão interna entre alas do Partido Republicano: de um lado, os conservadores mais radicais, que integram o influente Freedom Caucus, exigem reformas fiscais mais severas e o fim dos incentivos à energia verde. Do outro, moderados preocupados com o impacto político e social de cortes drásticos em programas de assistência.

A proposta, como foi apresentada, teria impacto de trilhões de dólares sobre a já elevada dívida federal, estimada em US$ 36,2 trilhões. O Comitê Tributário Conjunto do Congresso calcula que os cortes de impostos implicariam uma renúncia fiscal de US$ 3,72 trilhões ao longo da próxima década. Embora parte do pacote inclua incentivos fiscais para a classe trabalhadora, como a isenção sobre gorjetas e horas extras, os críticos argumentam que os principais beneficiados seriam os mais ricos.

A rejeição da medida não representa um fim definitivo, mas configura um atraso nos planos da liderança republicana, que pretendia levar o projeto ao plenário da Câmara na próxima semana. O presidente do comitê, Jodey Arrington, sinalizou que haverá tentativas de negociação durante o fim de semana, com o objetivo de garantir um acordo que una as diversas correntes do partido.

O debate sobre o projeto revela disputas estratégicas dentro do Partido Republicano. Moderados temem que cortes profundos em benefícios sociais, como os previstos para o Medicaid e o seguro subsidiado oferecido pelo Obamacare, afetem negativamente a imagem do partido nas eleições legislativas de 2026, especialmente em distritos competitivos. Já os linha-dura veem o projeto como uma oportunidade rara de impor uma agenda fiscal rigorosa, aproveitando a atual maioria republicana no Congresso.

Além das divergências sobre o Medicaid, há também tensões quanto aos créditos fiscais voltados à energia limpa, implementados durante o governo democrata. Os republicanos mais conservadores exigem sua revogação total, enquanto outros setores do partido demonstram resistência, reconhecendo a crescente importância da pauta ambiental junto ao eleitorado.

Diante do impasse, os republicanos buscam um meio-termo que permita a retomada do projeto na segunda-feira, mantendo suas diretrizes principais, mas com ajustes que contemplem as diferentes exigências internas. O desfecho desse embate será determinante não apenas para o futuro do pacote fiscal, mas também para a coesão do partido e a capacidade de Trump de implementar sua agenda econômica com o apoio total do Congresso.

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