POR QUE O MERCADO BRASILEIRO “AZEDOU” NO ÚLTIMO DIA DE MAIO?

 


A última sessão de maio foi marcada por quedas nos principais ativos brasileiros, refletindo um movimento global de cautela que resgata o velho ditado de Wall Street: “sell in May and go away”. Esse padrão histórico de desempenho mais fraco nos mercados antes do verão do Hemisfério Norte parece ter se confirmado neste fim de mês, especialmente diante do cenário externo turbulento e das incertezas fiscais no Brasil.

Na tarde desta sexta-feira (30), o Ibovespa recuava 0,76%, aos 137.476 pontos, enquanto o dólar ultrapassava a marca de R$ 5,70. As perdas, porém, ocorrem após uma sequência de meses positivos para a Bolsa brasileira: o índice acumulou alta de 1,67% em maio, depois de avanços de 3,69% em abril e 6,08% em março. No acumulado do ano, o Ibovespa registra valorização superior a 15%.

O desempenho negativo da sessão reflete um misto de fatores domésticos e internacionais. No Brasil, o foco esteve nas preocupações fiscais, com destaque para o impasse em torno do aumento do IOF. A medida, vista como inconstitucional por especialistas, gerou reações no Congresso, que deu um prazo de 10 dias ao governo para apresentar alternativas. A instabilidade política sobre o tema aumentou a percepção de risco, impactando especialmente os títulos públicos atrelados à inflação.

Os papéis do Tesouro IPCA+ com vencimentos longos voltaram a oferecer juros reais elevados, com o título de 2029 pagando 7,42% ao ano. Taxas acima de 7% também foram registradas para vencimentos em 2040, 2045 e 2060, indicando a aversão ao risco e a demanda por prêmios mais altos em um ambiente fiscal incerto.

No exterior, três fatores pressionaram os mercados globais. Primeiro, a volta da tensão comercial entre Estados Unidos e China, após novas acusações do presidente Donald Trump contra Pequim. Em seguida, a polêmica sobre um pacote fiscal americano, que inclui medidas que podem elevar a tributação de investidores estrangeiros em ativos nos EUA. Por fim, dados de inflação dos Estados Unidos mantiveram a expectativa de que o Federal Reserve inicie cortes de juros em setembro, mas sem dissipar as incertezas sobre os próximos passos da política monetária americana.

Mesmo com o ambiente de maior aversão ao risco, analistas seguem otimistas com os ativos brasileiros no médio e longo prazo. Fatores como a resiliência da economia, a possibilidade de corte na taxa Selic e os valuations ainda atrativos continuam sustentando o apetite de investidores estrangeiros. Segundo estimativas de grandes bancos de investimento, o Brasil ainda tem espaço para valorização adicional, especialmente em relação a seus pares regionais, como Colômbia, México e Chile.

Com o crescimento do PIB brasileiro no primeiro trimestre de 2025 — avanço de 1,4% — e a expectativa de que a atividade econômica desacelere sem pressionar a inflação, o mercado segue apostando que o Banco Central não terá de elevar os juros novamente, o que beneficia o cenário para ações e renda fixa.

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