Gestoras de ativos europeias estão cada vez mais cautelosas em relação ao ambiente de investimento nos Estados Unidos. O motivo é a crescente instabilidade política, impulsionada por ações do Partido Republicano que buscam desmontar pilares da Lei de Redução da Inflação (IRA), aprovada em 2022. A legislação foi um marco para a transição energética norte-americana, oferecendo incentivos fiscais robustos a projetos de energia limpa, o que atraiu investidores globais para o país.
Dentro de instituições como a Allianz Global Investors e a Amundi, que juntas administram trilhões de dólares em ativos, o clima é de preocupação. O projeto de lei aprovado pela Câmara dos Representantes, dominada pelos republicanos, propõe o fim de boa parte dos benefícios criados pela IRA. Mesmo que o Senado, com maioria democrata, consiga barrar o avanço da proposta, o simples fato de ela ter sido aprovada na Câmara já gera um novo nível de incerteza regulatória.
A instabilidade afeta diretamente os planos de investimento de grandes fundos. Projetos de energia solar, eólica, armazenamento de baterias e hidrogênio verde, antes considerados sólidos nos EUA, agora enfrentam dúvidas quanto à viabilidade financeira de longo prazo. Investidores passam a reavaliar riscos e considerar alternativas em mercados mais previsíveis, como União Europeia e Canadá.
A diferença entre os dois lados do Atlântico é cada vez mais evidente. Enquanto a Europa transforma suas metas de redução de emissões em políticas de Estado, com apoio contínuo independentemente das mudanças de governo, os Estados Unidos demonstram volatilidade. A gestão de Donald Trump, em seu novo mandato, tem desfeito medidas ligadas à transição energética e ampliado incertezas com declarações protecionistas e choques tarifários, inclusive com aliados como a União Europeia.
Esse cenário já provoca realocações de capital. Grandes instituições relataram um reposicionamento de seus clientes, que estão reduzindo a exposição ao mercado norte-americano. Fundos negociados em bolsa, antes centrados em ações de empresas dos EUA com foco climático, estão sendo esvaziados em favor de alternativas europeias, onde a política climática é mais previsível e os incentivos permanecem estáveis.
Além do impacto na energia limpa, o ambiente regulatório incerto dos EUA tem repercussões mais amplas no mercado financeiro. O índice S&P 500 recuou após o anúncio da proposta republicana, enquanto os rendimentos dos títulos do Tesouro de longo prazo subiram, refletindo a percepção de risco fiscal elevado. O dólar também perdeu força, em meio ao aumento das tensões comerciais com a Europa.
A consequência pode ser uma mudança duradoura nos fluxos de capital globais. Se antes os EUA eram vistos como o principal destino para investimentos em tecnologia limpa e infraestrutura verde, agora podem perder espaço para regiões que demonstram maior consistência política e compromisso com a descarbonização. A decisão sobre o futuro da IRA tornou-se, assim, um divisor de águas para o posicionamento de fundos e estratégias de investimento sustentável em escala global.
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