O mercado financeiro brasileiro enfrentou uma semana de altos e baixos, refletindo o embate entre a euforia inicial com o desempenho da Bolsa e os riscos fiscais que voltaram a ganhar protagonismo. Após atingir o marco histórico de 140 mil pontos na última terça-feira (20), o Ibovespa viu sua trajetória ser revertida por uma série de acontecimentos, tanto no Brasil quanto no exterior, que reacenderam o alerta entre investidores.
A expectativa de um cenário mais favorável para os ativos domésticos, com o fim do ciclo de alta de juros e possíveis mudanças políticas, impulsionou o otimismo no início da semana. Grandes instituições financeiras haviam revisado suas projeções para cima, acreditando em um ciclo positivo. No entanto, fatores antes tratados como riscos secundários tornaram-se os principais motores da instabilidade.
Nos Estados Unidos, o pacote fiscal aprovado pela Câmara, proposto por Donald Trump, reacendeu preocupações com o endividamento do país. A combinação de cortes de impostos, aumento nos gastos militares e restrições a programas sociais gerou desconfiança sobre a sustentabilidade fiscal da maior economia do mundo. Soma-se a isso a ameaça de novas tarifas contra a União Europeia, que agravou ainda mais o clima de aversão ao risco nos mercados globais.
No Brasil, a atenção se voltou para uma Medida Provisória que institui a “justiça tarifária”, ampliando a gratuidade na conta de luz para milhões de brasileiros. Apesar do apelo social, a medida levantou dúvidas sobre seu impacto nas contas públicas. Mas o maior revés veio na quinta-feira, quando o governo anunciou a elevação do IOF sobre operações de câmbio, buscando aumentar a arrecadação.
Inicialmente, a contenção de R$ 31,3 bilhões nos gastos foi bem recebida. A iniciativa indicava comprometimento com o equilíbrio fiscal, superando até mesmo as expectativas mais otimistas, que estimavam um corte de até R$ 15 bilhões. Entretanto, a tentativa de elevar receitas por meio do aumento do IOF gerou forte reação negativa. A mudança afetaria investimentos de fundos nacionais no exterior, o que causou preocupações entre agentes do mercado e investidores estrangeiros.
A resposta veio rápido: diante da pressão, o Ministério da Fazenda voltou atrás em parte das medidas, restaurando a alíquota zero para remessas destinadas a aplicações no exterior. A correção foi anunciada horas depois da divulgação original e reforçada em coletiva na manhã seguinte. Ainda assim, o episódio deixou cicatrizes na percepção dos agentes econômicos sobre a condução da política fiscal e a comunicação do governo.
A instabilidade também se refletiu no câmbio e na curva de juros, com reações imediatas aos ruídos e à incerteza. O recuo parcial nas medidas não foi suficiente para estancar os efeitos negativos. A narrativa fiscal ganhou força e expôs o desafio do governo: aumentar a arrecadação sem minar a confiança dos mercados nem pressionar setores produtivos.
Com os riscos fiscais novamente em destaque, o cenário aponta para uma maior volatilidade nos próximos meses. A combinação de fatores internos e externos exige atenção redobrada dos investidores e precisão do governo ao calibrar suas políticas.
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