O mercado de câmbio brasileiro encerrou a quinta-feira com forte valorização do dólar frente ao real, contrariando a tendência observada no exterior. A alta da moeda norte-americana, que fechou cotada a R$ 5,6803 no mercado à vista — com avanço de 0,84% no dia —, reflete o aumento da cautela dos investidores diante de especulações sobre os rumos da política econômica do governo federal.
Mesmo com o desmentido do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, circularam rumores de que o governo estaria articulando um pacote de medidas voltado a impulsionar a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2026, ano de eleição presidencial. As especulações geraram preocupações sobre possíveis impactos negativos para a responsabilidade fiscal, o que contribuiu para pressionar a cotação da moeda americana no mercado interno.
Em contraste, no cenário internacional, o dólar perdeu força diante de outras divisas após a divulgação de dados econômicos mistos nos Estados Unidos. O índice de preços ao produtor (PPI) norte-americano apresentou uma inesperada queda de 0,5% em abril na comparação com março. Em termos anuais, o indicador subiu 2,4%, em linha com as projeções dos analistas, que também esperavam uma alta mensal de 0,2%. Os números indicam uma possível desaceleração das pressões inflacionárias, o que poderia afetar o ritmo de aperto monetário pelo Federal Reserve.
As vendas no varejo dos EUA também apresentaram desaceleração, com aumento de apenas 0,1% em abril, após avanço de 1,7% no mês anterior. Apesar do desempenho abaixo do ritmo anterior, os dados ainda vieram levemente acima das expectativas. Já no mercado de trabalho, os pedidos semanais de auxílio-desemprego permaneceram estáveis em 229 mil, mas há sinais de que o número de vagas disponíveis está diminuindo, o que pode influenciar as decisões futuras do banco central norte-americano.
Ainda nesta quinta, declarações do presidente do Fed, Jerome Powell, chamaram a atenção dos agentes financeiros. Powell afirmou que a autoridade monetária dos Estados Unidos precisará reconsiderar elementos centrais de sua abordagem atual, especialmente em relação à inflação e ao emprego, o que adiciona incertezas ao cenário externo, embora sem gerar impactos negativos significativos nas moedas emergentes.
Na Bolsa de Valores brasileira (B3), o contrato futuro de dólar com vencimento em junho, o mais negociado no momento, também subiu 0,64%, sendo cotado a R$ 5,6990 por volta das 17h09. No acumulado do mês, a moeda americana registra uma leve valorização de 0,07%.
As cotações do dólar comercial ficaram em R$ 5,680 tanto na compra quanto na venda, enquanto o dólar turismo foi negociado a R$ 5,678 na compra e R$ 5,858 na venda.
A valorização do dólar nesta sessão reflete, portanto, um movimento de aversão ao risco motivado por incertezas internas, sobretudo relacionadas à política fiscal, ainda que o contexto internacional tenha sinalizado uma possível trégua inflacionária. O comportamento da moeda nas próximas semanas dependerá tanto do desdobramento das políticas econômicas do governo federal quanto da evolução do cenário externo.
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