AGÊNCIA QUE AVALIA RISCO PREVÊ CENÁRIO DESAFIADOR PARA OS EUA E REVELA O MOTIVO



A agência Fitch Ratings divulgou um relatório nesta quarta-feira em que traça um cenário fiscal preocupante para os Estados Unidos nos próximos anos. De acordo com a análise, a trajetória das contas públicas do país continua pressionada por elevados déficits fiscais e um endividamento crescente, em meio à ausência de reformas estruturais significativas. Mesmo com algumas medidas pontuais de economia propostas pelo Congresso e ações de eficiência administrativa, a avaliação da Fitch é que os fundamentos fiscais da maior economia do mundo permanecem frágeis.

No centro da preocupação está a falta de mudanças substanciais na política econômica do governo americano. A agência não espera que a atual administração, liderada pelo presidente Donald Trump, promova grandes ajustes fiscais até o fim do mandato. Essa expectativa sustenta a visão de que o déficit orçamentário permanecerá elevado, mesmo diante de uma leve redução prevista para o curto prazo.

A Fitch estima que o déficit fiscal, que representou 8% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024, cairá para 7,1% em 2025. Essa queda seria parcialmente atribuída à arrecadação de US$ 160 bilhões por meio de tarifas alfandegárias. Apesar dessa leve melhora momentânea, a agência projeta que o déficit voltará a crescer nos anos seguintes, atingindo 7,6% do PIB em 2026. A alta seria resultado da combinação entre os planos de cortes de impostos da Casa Branca e um desempenho econômico mais fraco.

Esse desequilíbrio fiscal tem impactos diretos na evolução da dívida pública dos EUA. Segundo as projeções da Fitch, a relação entre dívida e PIB deve alcançar 120% em 2026, com uma tendência de alta contínua até chegar a 135% em 2029. Esse patamar, considerado elevado mesmo para uma economia desenvolvida, representa um dos principais fatores de risco à estabilidade financeira do país no longo prazo.

O relatório também destaca que os encargos com juros da dívida já exercem forte pressão sobre o orçamento federal. Essa despesa tende a se agravar conforme a dívida cresce, comprometendo ainda mais a capacidade do governo de investir em outras áreas prioritárias. Para atenuar esse quadro, a Fitch avalia como positivas as iniciativas propostas pelo Congresso para redução de gastos, assim como os esforços do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), que pretende gerar uma economia anual de US$ 150 bilhões.

Ainda assim, a agência é categórica ao afirmar que tais medidas são insuficientes. Para garantir a sustentabilidade fiscal dos Estados Unidos no médio prazo, seria necessário implementar uma reforma ampla dos gastos obrigatórios, como os programas de seguridade social e saúde pública, que consomem parcelas crescentes do orçamento.

A manutenção da nota de crédito do país em ‘AA+’, com perspectiva estável, reflete a combinação entre a solidez institucional e econômica dos EUA e os riscos crescentes representados pelo desequilíbrio fiscal. A Fitch alerta que, na ausência de reformas estruturais, os fundamentos fiscais continuarão a se deteriorar gradualmente, representando um desafio relevante para o próximo governo.

Comentários