BRASIL ENTRA EM FASE DE "AJUSTES" E FATOR EXTERNO FAZ DÓLAR SUBIR; ENTENDA

 


O dólar comercial fechou em alta nesta sexta-feira, revertendo perdas registradas nas primeiras horas do pregão, em um dia marcado pela instabilidade no cenário global e pela repercussão da política monetária brasileira. A moeda norte-americana encerrou o dia com valorização de 0,45%, sendo cotada a R$ 5,524 para compra e R$ 5,525 para venda. Mesmo com o avanço diário, o dólar acumulou queda de 0,26% na semana e, no acumulado do ano, recua 10,55%.

Logo após a abertura dos mercados, o dólar chegou a operar em baixa, chegando à mínima de R$ 5,4771. O movimento refletiu a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que, na noite de quarta-feira, elevou a taxa básica de juros Selic de 14,75% para 15%, o maior patamar em quase 20 anos. A medida surpreendeu parte do mercado e inicialmente fortaleceu o real, diante do aumento do diferencial de juros entre o Brasil e economias desenvolvidas, o que tende a atrair capital estrangeiro.

No entanto, esse impulso positivo foi enfraquecido ao longo do dia pela intensificação dos temores relacionados ao conflito no Oriente Médio. Com o prolongamento das tensões entre Israel e Irã e a possibilidade de envolvimento direto dos Estados Unidos, a percepção de risco global aumentou, favorecendo a busca por ativos considerados mais seguros, como o próprio dólar.

O índice DXY, que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de moedas internacionais, subiu 0,13% no final da tarde, reforçando a valorização da divisa americana frente a pares emergentes, incluindo o real. A volatilidade foi intensificada por declarações de autoridades iranianas sugerindo que o Estreito de Ormuz poderia ser fechado caso os EUA apoiem diretamente Israel no conflito, fato que reacendeu preocupações com a oferta global de petróleo e os impactos econômicos decorrentes.

A cautela também foi alimentada pela expectativa de desdobramentos da política monetária americana. Em declaração pública, o diretor do Federal Reserve, Christopher Waller, sinalizou que o banco central dos Estados Unidos está pronto para discutir cortes de juros na próxima reunião de julho, embora ainda dependa do comportamento da economia global e doméstica. O tom considerado levemente dovish trouxe algum alívio, mas não foi suficiente para inverter o fluxo de valorização do dólar no pregão.

No mercado futuro da B3, o dólar com vencimento em julho era negociado em leve queda, a R$ 5,5335 por volta das 17h, indicando que os investidores seguem atentos aos próximos movimentos tanto do Banco Central brasileiro quanto das autoridades norte-americanas.

Mesmo com o avanço da moeda na sessão, analistas consideram que o real continua relativamente forte no ano, sustentado pela política monetária restritiva doméstica e pela entrada de fluxo externo em busca de ativos com rendimentos elevados.

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