BRASIL SOBE PARA A SEGUNDA COLOCAÇÃO EM RANKING TEMERÁRIO DA ECONOMIA GLOBAL; ENTENDA

Com a recente decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar a taxa Selic para 15% ao ano, o Brasil passou a ocupar a segunda posição no ranking mundial de juros reais, elaborado pelo economista-chefe Jason Vieira em levantamento conjunto da MoneYou e Lev Intelligence. A nova posição coloca o país à frente de economias como Rússia, Argentina e África do Sul, ficando atrás apenas da Turquia.

O estudo analisou os 40 principais mercados de renda fixa do mundo e mostra que, com a Selic ajustada e descontada a inflação projetada, o Brasil registra juros reais de 9,53% ao ano. Esse avanço consolida a escalada da posição brasileira nos últimos meses: em maio, o país estava em terceiro lugar, com 8,65%; em março, era o quarto colocado, com 8,79%; e, em janeiro, chegou a liderar o ranking com 9,18%.

A Turquia mantém a primeira posição, com juros reais de 14,44%, fruto de uma política monetária agressiva diante de uma inflação persistentemente elevada. Na sequência do Brasil, vêm a Rússia (7,63%), a Argentina (6,7%) e a África do Sul (5,54%). A média global entre os países analisados é significativamente inferior, em torno de 1,67%.

Mesmo antes da decisão do Copom, o Brasil já figurava entre os países com maiores taxas reais do mundo. A elevação de 0,25 ponto percentual apenas consolidou essa tendência e reforçou a posição do país em um cenário de juros ainda elevados no contexto internacional.

O relatório observa que, em contraste com o Brasil, a maior parte dos países adotou recentemente posturas mais brandas em relação à política monetária. Dos 165 países observados no levantamento mais amplo, apenas 2,42% aumentaram suas taxas de juros, enquanto 29,70% optaram por cortes e 66,67% mantiveram os patamares anteriores. Já entre os 40 países mais relevantes para os mercados de renda fixa, metade decidiu manter suas taxas estáveis, 47,5% promoveram reduções e apenas 2,5% elevaram os juros.

Essa discrepância reflete as particularidades do cenário macroeconômico brasileiro. Enquanto outras economias enxergam margem para suavizar as condições financeiras, o Brasil enfrenta desafios estruturais como incertezas fiscais, risco elevado na gestão das contas públicas e pressões inflacionárias derivadas de preços de alimentos e variações cambiais.

O relatório também aponta que a recente guerra comercial entre Estados Unidos e outras potências, especialmente no eixo asiático, contribuiu para reduzir a valorização do dólar e aliviar pressões inflacionárias externas. Essa dinâmica, no entanto, não elimina o quadro de risco doméstico brasileiro, em especial no que se refere à política fiscal e à sustentabilidade da dívida pública.

O novo patamar de juros reais no Brasil pode atrair investidores interessados em retorno elevado, mas também levanta preocupações quanto aos efeitos sobre o crescimento econômico e a capacidade de recuperação do consumo e do crédito. Com a Selic em 15% e os juros reais entre os mais altos do mundo, o país se torna um destino atrativo para capitais de curto prazo, mas ao custo de maior restrição monetária e desaquecimento da atividade.

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