A Gol Linhas Aéreas anunciou uma emissão recorde de ações como parte final de sua saída do processo de Chapter 11, semelhante à recuperação judicial no Brasil. A operação, que entra em vigor nesta quarta-feira (12), envolve a emissão de cerca de 9 trilhões de ações — movimento que deve se tornar o maior já registrado na história da B3. Apesar dos números impressionantes, o impacto prático para os atuais acionistas será fortemente negativo, com uma diluição de 99,8% de sua participação.
A nova estrutura prevê a emissão de 8,2 trilhões de ações ordinárias e 968 bilhões de preferenciais. As novas ações serão precificadas a valores simbólicos: R$ 0,0002857142 por ação ordinária e R$ 0,01 por preferencial. No total, a operação representa um aumento de capital de R$ 12,03 bilhões, com a controladora Abra ficando com cerca de 80% do capital da empresa após a emissão.
Esse aumento massivo no número de ações tende a reduzir drasticamente o valor por papel. Hoje, as ações da Gol são negociadas em torno de R$ 1, mas a nova base de preços será medida em centavos. Isso pode confundir o investidor comum, levando muitos a acreditar que há espaço para grandes valorizações quando, na verdade, os preços serão reajustados para refletir a nova estrutura acionária.
A situação da companhia aérea segue delicada mesmo após a reestruturação. A Gol continua com alto endividamento, com uma dívida equivalente a mais de 5,4 vezes o EBITDA, o que a coloca em posição desfavorável frente a concorrentes do setor. Para muitos analistas, o valuation da empresa permanece comprometido, com a dívida praticamente equivalente ao valor total da empresa.
Para conter possíveis distorções no mercado, a B3 tomou medidas preventivas. A partir de amanhã, os papéis atuais (GOLL3 e GOLL4) serão substituídos por novos tickers (GOLL53 e GOLL54), e as ações passarão a ser negociadas apenas em lotes de 1.000 unidades. A medida visa evitar especulações com preços tão baixos, pois qualquer pequena oscilação poderia sugerir ganhos ilusórios a investidores desavisados.
Essa mudança levanta preocupações, principalmente entre investidores de varejo. Estima-se que mais de 100 mil CPFs detenham ações da Gol, muitos com investimentos de R$ 100 a R$ 1.000. Com a nova estrutura, manter a mesma participação exigiria um investimento adicional de aproximadamente R$ 2.800, o que pode ser inviável para boa parte desses acionistas.
O formato adotado para a emissão também foi alvo de críticas por sua complexidade. Alguns especialistas argumentam que um ajuste mais simples — como elevar o valor unitário e reduzir proporcionalmente o número de ações — poderia ter tornado o processo mais claro e compreensível para o público geral.
Diante disso, o caso da Gol evoca memórias recentes de outras grandes reestruturações no mercado, como o colapso das Lojas Americanas, em que investidores de varejo sofreram perdas expressivas. O episódio da companhia aérea reforça a importância de atenção redobrada em operações de capital que envolvem diluições drásticas.
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