A proposta do governo de instituir uma alíquota de 5% de Imposto de Renda sobre os rendimentos de LCI (Letras de Crédito Imobiliário), LCA (Letras de Crédito do Agronegócio), CRI (Certificados de Recebíveis Imobiliários) e CRA (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) a partir de 2026 acendeu um alerta entre investidores e setores econômicos que dependem diretamente desses instrumentos. Estima-se que a medida possa gerar um impacto de até R$ 50 bilhões em perdas de financiamento e comprometer a manutenção ou criação de cerca de 1,3 milhão de empregos nos próximos anos.
Atualmente, esses ativos são isentos de tributação e funcionam como importantes mecanismos de captação de recursos para o setor imobiliário e o agronegócio, movimentando um estoque total de aproximadamente R$ 1,4 trilhão. A proposta de taxação, ao afetar diretamente a atratividade desses títulos para os investidores — sobretudo os de pessoa física, que predominam no mercado —, tende a encarecer o custo de captação das instituições emissoras.
Para compensar a nova tributação, será necessário oferecer rentabilidades brutas maiores, o que, por sua vez, eleva o custo do crédito. Esse efeito pode provocar uma retração no volume de investimento captado, estimado entre 1,25% e 3,5% segundo análises que adaptam estudos internacionais ao contexto brasileiro. No pior cenário, a perda de financiamento pode chegar a R$ 50,2 bilhões — dos quais R$ 24,6 bilhões afetariam o setor imobiliário e R$ 25,7 bilhões o agronegócio.
Com base em dados da indústria da construção civil e do agronegócio, foi possível projetar os impactos dessa retração sobre o emprego. No setor da construção, estima-se a criação de 18 postos de trabalho diretos e indiretos por milhão de reais investido. Já no agronegócio, considerando avanços tecnológicos e mecanização, a projeção foi ajustada para 35 empregos por milhão. A aplicação desses multiplicadores indica a possibilidade de até 1,34 milhão de empregos deixarem de ser gerados ou mantidos no acumulado de tempo, caso a perda de crédito se concretize.
Embora essa estimativa represente uma ordem de grandeza e não uma previsão imediata, o dado evidencia o risco de reduzir significativamente a capacidade produtiva dos dois setores. A consequência pode ser uma desaceleração gradual em áreas-chave da economia, afetando o crescimento, a geração de renda e o acesso ao crédito imobiliário e rural.
Além do impacto econômico, a medida levanta um debate sobre a relação entre política fiscal e estímulo à atividade produtiva. Ao tributar instrumentos que hoje viabilizam o financiamento mais barato e acessível para áreas essenciais, o governo pode comprometer os objetivos de desenvolvimento e inclusão econômica.
Com a mudança, o mercado poderá observar uma migração de recursos para outros tipos de investimento mais atrativos do ponto de vista fiscal, o que pode desbalancear o fluxo de capital destinado a setores estratégicos.
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