COMO UMA GRANDE BRIGA MIDIÁTICA PODE CUSTAR BILHÕES DE DÓLARES À TESLA?

 


A recente disputa pública entre Elon Musk e Donald Trump colocou a Tesla no centro de uma tempestade política e econômica que ameaça não apenas o valor de mercado da empresa, mas também sua governança interna. Em vez de se manter nos bastidores ou adotar um posicionamento institucional, como é comum entre líderes corporativos, Musk escolheu confrontar abertamente o ex-presidente dos Estados Unidos. A reação foi imediata: as ações da Tesla sofreram uma queda expressiva, provocando uma perda de aproximadamente US$ 150 bilhões em valor de mercado.

O impacto vai além do mercado financeiro. Analistas do setor alertam para riscos reais à operação da montadora, especialmente se Trump retornar à presidência e cumprir a ameaça de revogar créditos fiscais para veículos elétricos. Tais incentivos têm sido fundamentais para o crescimento da Tesla ao longo dos últimos anos, funcionando como motor de demanda em diversos estados norte-americanos. Um eventual corte dessas políticas pode desestabilizar o modelo de negócios da companhia, especialmente em um momento em que enfrenta forte concorrência no setor automotivo.

Outro ponto de vulnerabilidade está na área de tecnologia de veículos autônomos. A Tesla aposta fortemente no desenvolvimento de sistemas de direção autônoma como pilar para o seu futuro. No entanto, o ambiente regulatório pode se tornar mais hostil, dependendo da postura de um eventual novo governo, especialmente se as tensões políticas persistirem. A empresa já enfrenta ceticismo em torno da segurança desses sistemas e pode ter dificuldades adicionais para obter aprovações regulatórias se for alvo de medidas retaliatórias.

Diante desse cenário conturbado, cresce a pressão sobre o conselho de administração da Tesla. Em empresas convencionais, episódios que resultam em perdas expressivas e risco à reputação da companhia costumam levar a questionamentos diretos sobre a permanência do CEO. No entanto, na Tesla, a situação é diferente. Musk detém cerca de 22% do poder de voto da empresa, o que lhe confere um nível de influência considerável. Isso torna extremamente improvável qualquer tentativa do conselho de destituí-lo, mesmo que sua permanência gere turbulência no mercado.

Além disso, a proximidade pessoal de diversos membros do conselho com Musk levanta dúvidas sobre a capacidade do grupo de agir de forma independente. Entre os diretores estão nomes como Kimbal Musk, irmão do executivo, e Joe Gebbia, cofundador do Airbnb e aliado de longa data. A ausência de executivos experientes nos setores automotivo ou de energia sustentável agrava as preocupações com a estrutura de governança da empresa.

O histórico da Tesla inclui outras decisões controversas que passaram sem oposição significativa do conselho, como o pacote de remuneração bilionário aprovado em 2018 e diversas polêmicas públicas envolvendo o comportamento de Musk. Com a imagem do executivo tão fortemente ligada à identidade da marca, o conselho enfrenta um dilema: intervir para preservar a estabilidade ou manter a atual liderança a qualquer custo.

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