Dólar cai mais de 10% e tem pior semestre desde 1973
O dólar americano tem vivido um dos momentos mais delicados de sua história recente. Em 2025, a moeda acumula uma queda de mais de 10% em relação a outras moedas globais, sendo essa a pior performance para um primeiro semestre desde 1973. No Brasil, o dólar encerrou o mês de junho cotado a R$ 5,435, com recuo de 4,99% no mês, 4,76% no trimestre e 12% no acumulado do ano.
Esse enfraquecimento generalizado ocorre apesar do histórico da moeda como ativo de proteção em tempos de crise. Especialistas apontam uma combinação de fatores internos dos EUA e tendências globais para explicar esse cenário incomum.
Fator Trump aumenta incertezas fiscais e comerciais
A gestão do presidente Donald Trump tem gerado um “prêmio de risco” adicional para o dólar, segundo o banco Morgan Stanley. Políticas comerciais imprevisíveis e propostas de cortes de impostos podem gerar um aumento de até US$ 3 trilhões na dívida pública americana nos próximos dez anos. Isso assusta investidores e pressiona a moeda para baixo.
Até mesmo eventos que antes impulsionariam o dólar — como tensões no Oriente Médio ou aumento no preço do petróleo — têm tido efeito limitado. O mercado, cada vez mais, desconfia da sustentabilidade fiscal dos EUA.
Corte de juros pelo Fed também pressiona o dólar
Outro fator importante é a política monetária do Federal Reserve. A expectativa é de que o Fed inicie uma série de cortes de juros para estimular a economia. Projeções indicam que a taxa pode cair até 175 pontos-base em 2026, mesmo sem recessão técnica. Juros mais baixos tornam os investimentos em dólar menos atrativos, favorecendo outras moedas e ativos.
Com isso, moedas como o euro subiram cerca de 13% em 2025, enquanto o ouro renovou máximas, com investidores buscando proteção em ativos reais.
Investidores realocam capital e apostam em emergentes
A busca por diversificação e segurança também tem feito investidores globais reverem suas estratégias. Muitos estão reduzindo exposição ao dólar e aos ativos americanos. Fundos têm aumentado hedge cambial ou migrado para mercados emergentes.
Um relatório do Morgan Stanley projeta que até US$ 66 bilhões podem ser redirecionados para ações da América Latina. O Brasil seria o maior beneficiado, com destaque para seu diferencial de juros e melhora na percepção de risco.
Real valorizado: cenário brasileiro favorece o câmbio
O real tem se fortalecido frente ao dólar não apenas pelo contexto externo, mas também por fatores internos. A taxa Selic elevada em 15% ao ano atrai investidores estrangeiros. Além disso, o crescimento econômico consistente e menor exposição a conflitos comerciais reforçam o otimismo com o Brasil.
Perspectivas para os próximos meses
Apesar da forte queda, analistas acreditam que a desvalorização do dólar pode desacelerar nos próximos meses. No entanto, o cenário de incerteza global segue pressionando a moeda, que vê seu status como reserva internacional cada vez mais questionado.
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