Dólar volta a subir apesar de trégua entre Irã e Israel: o que explica o movimento?

 


Mesmo após um alívio nas tensões no Oriente Médio com o anúncio de um cessar-fogo entre Irã e Israel, o dólar encerrou a terça-feira (24) em leve alta frente ao real. O movimento contrariou a tendência internacional, onde a moeda norte-americana perdeu força em meio à recuperação do apetite por risco nos mercados.

No cenário local, fatores técnicos e expectativas sobre a política monetária ajudaram a explicar esse comportamento atípico. A moeda chegou a ser negociada abaixo de R$ 5,50 pela manhã, mas terminou o dia com valorização de 0,28%, cotada a R$ 5,5194. O dólar futuro com vencimento em julho subiu 0,40%, a R$ 5,5228.

Compras técnicas e atuação do BC pesaram no câmbio

A valorização do dólar no Brasil foi atribuída principalmente a movimentos técnicos de correção. Após dias consecutivos de queda, muitos investidores aproveitaram o recuo da moeda para comprar a divisa a preços considerados atrativos. Além disso, pesou no câmbio a decisão do Banco Central (BC) de realizar dois leilões cambiais nesta quarta-feira: um de venda à vista e outro de swap cambial reverso.

Essas atuações têm como objetivo conter a volatilidade do mercado e oferecer liquidez, principalmente diante de incertezas externas e da proximidade de vencimentos relevantes de contratos. Os leilões costumam influenciar a cotação no curto prazo, pois indicam uma tentativa do BC de suavizar movimentos especulativos.

Alívio geopolítico não impediu cautela no Brasil

No exterior, o dólar recuou frente a várias moedas após o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciar um cessar-fogo entre Israel e Irã. A trégua, mesmo considerada frágil por analistas, foi suficiente para impulsionar os mercados globais. Bolsas subiram e o petróleo caiu mais de 6%, refletindo a redução imediata de riscos na região mais sensível para o fornecimento de energia.

Apesar disso, no Brasil, o mercado manteve uma postura mais conservadora. Analistas explicam que a valorização da moeda americana no país não reflete uma piora no cenário externo, mas sim um ajuste local diante da expectativa de estabilidade na Selic por um longo período.

Copom sinaliza fim da alta de juros, mas sem cortes à vista

A divulgação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) também influenciou os negócios. O documento confirmou a interrupção do ciclo de altas da Selic, atualmente em 15%, mas reforçou que a taxa deve permanecer elevada por um “período bastante prolongado” para garantir a convergência da inflação à meta.

Esse tom mais conservador reforça a atratividade do real frente a moedas de países com juros mais baixos, mas também limita o espaço para uma queda mais intensa do dólar, ao manter o diferencial de juros elevado.

Comentários