GRANDE EMPRESA CHINESA CHEGA AO BRASIL E FORÇA IFOOD A SE ADAPTAR


Com um investimento de R$ 5,6 bilhões, a gigante chinesa Meituan dá início às operações no Brasil com a Keeta, sua marca de entregas. O mercado nacional, até então dominado por iFood, Rappi e 99Food, vê-se diante de uma nova fase de competição acirrada que já está provocando reações rápidas entre as empresas instaladas.

A entrada da Keeta promete mudanças profundas no setor. Mesmo sem detalhar seu plano operacional, a empresa revelou a intenção de montar uma rede com cem mil entregadores no país, o que sinaliza uma ambição de alto impacto em curto prazo. Os concorrentes reagiram com ajustes imediatos, especialmente nas taxas pagas aos entregadores.

O iFood anunciou novos valores mínimos para entregas: R$ 7,50 para motos e carros, R$ 7 para bicicletas, com um adicional de R$ 1,50 por quilômetro extra. A empresa também paga R$ 3 por entregas agrupadas. Já o Rappi aumentou a remuneração aos finais de semana, oferecendo R$ 10 por entrega entre sexta à noite e segunda de manhã, com adicional de R$ 1,60 por quilômetro após o quinto. A 99Food, prestes a retomar operações, está oferecendo pagamentos mínimos de R$ 250 por 20 entregas diárias, além de taxas atrativas para restaurantes com entregadores próprios.

A nova dinâmica também provoca efeitos sobre os estabelecimentos parceiros. O iFood mantém planos com comissões de até 23% e mensalidades fixas, enquanto o Rappi e a 99Food sinalizam isenções temporárias e taxas menores para atrair restaurantes. Essa corrida por fidelização tenta equilibrar os interesses dos três públicos-chave: consumidores, restaurantes e entregadores.

No centro dessa transformação estão os entregadores, que veem na competição uma esperança por melhores condições de trabalho. Muitos enfrentam jornadas exaustivas, riscos de segurança e pouca assistência das plataformas em caso de acidente. A promessa de mudanças, ainda que parcial, reacende discussões sobre remuneração justa, suporte estrutural e direitos trabalhistas.

A rotina nas ruas mostra a dura realidade da categoria. Entregadores enfrentam longas horas de trabalho para atingir metas básicas, lidam com insegurança durante o expediente e têm dificuldade para conciliar a profissão com a vida pessoal. A entrada de novos players, como a Keeta, é recebida com otimismo por parte deles, que esperam aumento na competitividade e, consequentemente, mais valorização do trabalho.

A disputa no delivery, porém, vai além das ruas. A competição também se dá no campo tecnológico, nos modelos de negócio e nas estruturas operacionais. Enquanto o Brasil ainda depende majoritariamente das grandes plataformas com altos índices de informalidade, países como China, EUA e Alemanha já adotam sistemas mais integrados, rastreáveis ou independentes.

Neste novo cenário, empresas que desejarem se manter relevantes precisarão investir não só em promoções e tecnologia, mas principalmente na base humana do setor: os entregadores. A próxima fase do delivery no Brasil será decidida na capacidade de oferecer equilíbrio entre eficiência, sustentabilidade e dignidade profissional.

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