NOVA PROPOSTA DO GOVERNO PARA TRIBUTAR LCI E LCA TRAZ RISCOS; ENTENDA

 


A proposta do governo federal de tributar os rendimentos de Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) tem gerado apreensão no mercado financeiro e pode enfrentar forte resistência jurídica. Atualmente isentos do Imposto de Renda, esses instrumentos são vistos como alternativas vantajosas para investidores, especialmente por oferecerem rendimentos líquidos mais atrativos em comparação a outros produtos tributados.

A intenção do governo é aplicar uma alíquota de 5% sobre os rendimentos desses papéis, com o argumento de corrigir distorções no sistema tributário e ampliar a arrecadação. No entanto, especialistas alertam que essa mudança pode esbarrar em princípios constitucionais como o respeito ao direito adquirido, à segurança jurídica e à irretroatividade de normas tributárias.

O principal ponto de controvérsia gira em torno da possibilidade de a nova tributação alcançar títulos já emitidos e ainda em vigor. Esses papéis foram adquiridos por investidores com base em uma promessa de isenção fiscal. A eventual quebra dessa expectativa pode configurar afronta ao ato jurídico perfeito e ao direito adquirido — garantias previstas no artigo 5º da Constituição Federal.

Outro aspecto relevante é o princípio da anterioridade tributária. Pela Constituição, uma nova cobrança de imposto só pode entrar em vigor no exercício seguinte ao da publicação da lei que a institui, salvo exceções específicas. Mesmo que o governo argumente que a medida trata apenas da retirada de um benefício fiscal, ainda seria necessário observar o prazo mínimo de 90 dias antes de sua aplicação.

Além dos desafios constitucionais, a proposta pode desencadear uma onda de ações judiciais. Isso porque, embora o rendimento sobre o qual incide o Imposto de Renda só se materialize no momento do resgate, vencimento ou alienação do título, a expectativa de isenção foi firmada no ato da aquisição. Essa distinção técnica pode ser usada pelo governo para tentar aplicar a tributação a rendimentos futuros, mesmo de papéis adquiridos antes da mudança na regra.

No entanto, caso essa abordagem seja adotada, é provável que investidores recorram ao Judiciário para preservar os benefícios prometidos no momento da aplicação. A judicialização em massa poderia gerar insegurança para o mercado financeiro e afetar a confiança dos investidores em ativos emitidos sob regramentos estáveis.

Outro efeito colateral relevante é o impacto no mercado de crédito. LCIs e LCAs foram criadas com o objetivo de fomentar os setores imobiliário e do agronegócio. A isenção fiscal funciona como um estímulo ao financiamento desses segmentos. Caso a proposta avance sem distinções claras entre novos e antigos títulos, há o risco de redução na atratividade desses papéis, o que pode comprometer a captação de recursos para essas áreas estratégicas da economia.

Enquanto o governo não apresenta os detalhes da proposta — como a forma de implementação e a abrangência da nova regra —, o mercado opera em um cenário de incerteza. Investidores aguardam uma definição para saber se seus investimentos seguirão isentos ou passarão a ser tributados, o que pode impactar decisões de alocação de recursos no curto prazo.

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