O dólar comercial encerrou a quarta-feira em queda de 0,53%, cotado a R$ 5,5392, no menor patamar de fechamento desde outubro de 2024. A desvalorização da moeda norte-americana foi impulsionada por dados de inflação abaixo do esperado nos Estados Unidos e pela confirmação de um novo acordo comercial entre Washington e Pequim. O movimento não se limitou ao Brasil: o dólar teve retração frente a várias moedas ao redor do mundo.
Nos Estados Unidos, o índice de preços ao consumidor (CPI) subiu 0,1% em maio, levemente abaixo da expectativa de 0,2% do mercado. Em 12 meses, o indicador acumulou alta de 2,4%, também aquém dos 2,5% projetados. O núcleo do índice — que exclui itens mais voláteis como alimentos e energia — também teve desempenho melhor do que o previsto, consolidando a visão de que a inflação segue sob controle.
Com o avanço contido dos preços, aumentaram as apostas de que o Federal Reserve poderá retomar os cortes de juros ainda em 2025, possivelmente a partir de setembro. Juros mais baixos reduzem a atratividade dos títulos do Tesouro norte-americano, levando investidores a buscar alternativas em ativos mais arriscados, como mercados emergentes. Como resultado, o índice DXY, que compara o dólar com uma cesta de outras moedas, recuou 0,23%, sinalizando enfraquecimento global da divisa.
Além dos números da inflação, os investidores também repercutiram o novo acordo comercial entre Estados Unidos e China, anunciado na véspera. O entendimento prevê o alívio de tarifas mútuas e a remoção de restrições sobre exportações chinesas de minerais estratégicos, como ímãs e terras raras. Em contrapartida, os EUA flexibilizarão regras para estudantes chineses e outros pontos de cooperação bilateral. A notícia foi bem recebida pelos mercados, reduzindo a tensão comercial que vinha pressionando as moedas emergentes.
No Brasil, a valorização do real foi ainda mais influenciada pelo cenário político interno. O foco está nas discussões em torno do pacote fiscal proposto pelo governo para compensar a mudança nas alíquotas do IOF. Após forte reação negativa no Congresso e entre agentes do mercado, a equipe econômica, liderada pelo ministro Fernando Haddad, indicou disposição para debater medidas de controle de gastos primários como alternativa à elevação de tributos.
Entre as propostas colocadas em debate estão temas como o combate a supersalários e a revisão nas regras de aposentadoria dos militares. A perspectiva de que o governo possa avançar em cortes de despesas, e não apenas em aumento de receitas, ajudou a reforçar o clima de otimismo no câmbio, com operadores avaliando um possível ajuste mais equilibrado nas contas públicas.
Com o dólar turismo oscilando entre R$ 5,605 na venda e R$ 5,785 na compra, o recuo da moeda também traz reflexos para quem planeja viagens internacionais. Ainda assim, especialistas recomendam cautela, uma vez que o cenário externo continua sujeito a mudanças rápidas, especialmente com decisões de política monetária nos EUA e novos desdobramentos geopolíticos.
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