O Morgan Stanley emitiu recentemente um alerta sobre os riscos fiscais decorrentes do pacote aprovado na Câmara dos Estados Unidos, que agora segue para análise no Senado. O foco principal está na Seção 899, cláusula que tem gerado apreensão entre investidores estrangeiros devido à possibilidade de um aumento na tributação sobre determinados ativos financeiros mantidos por entidades internacionais.
A preocupação decorre da falta de clareza no texto legislativo quanto ao alcance dessa medida. Embora o documento atual não demonstre de forma explícita a intenção de tributar ativos de renda fixa detidos por estrangeiros, o mercado segue em compasso de espera por esclarecimentos adicionais do Senado. Essa indefinição tem provocado incertezas que podem impactar diretamente setores cruciais dos mercados financeiros, desde a renda fixa até o câmbio.
O banco destaca que, caso os títulos do Tesouro americano (Treasuries) sejam incluídos na tributação prevista pela Seção 899, o efeito imediato esperado seria um aumento na inclinação da curva de juros nos EUA. Isso indicaria uma maior demanda por juros mais altos em papéis de prazo mais longo, o que também tenderia a enfraquecer o dólar no mercado cambial. O movimento, segundo o Morgan Stanley, seria puxado principalmente por investidores privados estrangeiros, que geralmente reagem de forma mais rápida e volátil do que bancos centrais.
Além disso, os bônus corporativos também podem sofrer consequências significativas. Aproximadamente 25% desses ativos são detidos por investidores internacionais, o que torna o segmento vulnerável a uma potencial reprecificação negativa caso a tributação adicional se confirme. Isso poderia provocar uma queda nos preços desses títulos e um aumento na volatilidade, afetando a liquidez do mercado.
Outro segmento que merece atenção são os produtos securitizados, especialmente os títulos lastreados em ativos comerciais (Commercial Real Estate – CRE), que apresentam exposição estrangeira entre 5% e 10%. Esse grupo poderia ser mais impactado em comparação aos títulos baseados em imóveis residenciais, nos quais a participação estrangeira é inferior a 2%. A tributação extra nessas categorias pode afetar o apetite dos investidores e provocar ajustes nos preços desses papéis.
O Morgan Stanley ressalta que a Seção 899 ainda pode ser reformulada durante o trâmite no Senado, o que poderia reduzir o nível de preocupação existente hoje. Porém, até que o texto final seja divulgado, permanece o potencial para reprecificação dos ativos nos mercados de dívida e câmbio, o que adiciona um componente de volatilidade para os investidores.
Atualmente, estrangeiros detêm cerca de US$ 40 trilhões em ativos nos Estados Unidos, valor que corresponde a 134% do Produto Interno Bruto (PIB) americano. A maior parte desses investimentos está concentrada em títulos de longo prazo e ações corporativas, segmentos que seriam diretamente afetados pela nova tributação.
No campo macroeconômico, a postergação das tarifas comerciais e a incerteza sobre o pacote fiscal não alteram o cenário-base de crescimento global mais moderado e de política monetária restritiva nos EUA. O Morgan Stanley não prevê cortes na taxa de juros pelo Federal Reserve em 2025 e adota uma postura cautelosa em relação a ativos cíclicos e títulos de crédito com menor qualidade.
Como estratégia, o banco reforça a preferência por títulos de alta qualidade, com vencimentos médios entre cinco e dez anos nos EUA, além de papéis europeus com maturidade superior a 15 anos. Setores considerados defensivos, como bancos americanos, serviços públicos e telecomunicações, também são recomendados como posições mais seguras diante do atual ambiente de incerteza.
Dessa forma, o Morgan Stanley sinaliza que o mercado deverá permanecer atento às definições legislativas e seus desdobramentos, mantendo uma abordagem prudente para navegar os possíveis impactos da Seção 899 e suas consequências para o panorama financeiro global.
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