POR QUE AS TAXAS DE JUROS NO BRASIL ESTÃO DISPARANDO APÓS FATO INESPERADO NOS EUA?

As taxas dos títulos públicos negociados no Tesouro Direto voltaram a subir de forma expressiva nesta sexta-feira, 6 de junho, refletindo a crescente percepção de que o Banco Central do Brasil pode retomar o ciclo de alta da taxa Selic. A movimentação também foi impulsionada por fatores externos, especialmente a divulgação de dados robustos sobre o mercado de trabalho dos Estados Unidos, que afetaram os juros futuros tanto no mercado local quanto nos rendimentos dos Treasuries americanos.

Por volta do meio-dia, os títulos prefixados do Tesouro Direto ofereciam retorno anual acima de 14%. O Tesouro Prefixado com vencimento em 2028 pagava 13,86% ao ano, enquanto o título com vencimento em 2032 oferecia 14,06%. Já o Tesouro Prefixado com pagamento de juros semestrais, com vencimento em 2035, marcava rentabilidade de 14,14%.

Os papéis atrelados à inflação também registravam elevação nos prêmios. O Tesouro IPCA+ 2029 pagava IPCA + 7,61% ao ano, enquanto o Tesouro IPCA+ com juros semestrais 2035 oferecia IPCA + 7,28%. O título de longo prazo Tesouro IPCA+ 2050 também mostrava retorno elevado, com taxa real de IPCA + 7,00% ao ano, sinalizando que o mercado está precificando mais risco e exigindo maior compensação para compromissos de longo prazo.

Essa reprecificação reflete o ambiente de maior incerteza global e doméstica. Nos Estados Unidos, o relatório de emprego (payroll) referente a maio mostrou a criação de 139 mil vagas de trabalho, número acima da expectativa de 130 mil. Além disso, o crescimento salarial veio mais forte do que o projetado, enquanto a taxa de desemprego foi mantida. Esses dados reduziram as apostas de cortes de juros por parte do Federal Reserve antes de setembro, aumentando os rendimentos dos títulos americanos e impactando diretamente os mercados emergentes, como o brasileiro.

No Brasil, o foco do mercado agora se volta para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para 18 de junho. Investidores ajustaram rapidamente suas expectativas. O mercado passou a precificar uma chance de 62% de aumento de 0,25 ponto percentual na Selic, frente a 33% de probabilidade de manutenção dos juros, segundo os dados da opção de Copom negociada na B3. Na quinta-feira, esses números eram diferentes, com maior aposta na manutenção da taxa atual.

Apesar do ambiente mais inclinado ao aperto monetário, há quem defenda cautela. Avaliações no mercado apontam que o Banco Central pode optar por manter a Selic estável, a fim de acompanhar os efeitos defasados da política contracionista que já vem sendo praticada nos últimos trimestres. A decisão do Copom será determinante para os rumos das taxas dos títulos públicos e das expectativas de inflação.

Esse cenário de incerteza, somado à valorização do dólar e à alta dos juros futuros, contribui para o movimento de valorização das taxas do Tesouro Direto, exigindo atenção redobrada dos investidores. 

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