POR QUE GESTORAS DE FUNDOS APONTAM PERDA DE CONFIANÇA NA ECONOMIA BRASILEIRA?

 


Grandes gestoras de fundos de investimento demonstraram forte insatisfação com a atual condução da política fiscal do governo federal, especialmente após o anúncio do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), medida que acabou sendo parcialmente revertida devido à forte reação negativa do Congresso. Para essas casas de investimento, a iniciativa é vista como paliativa, pouco eficaz e politicamente custosa, evidenciando o esgotamento das estratégias de curto prazo para aumento de arrecadação.

A reação do mercado foi imediata e revelou uma crescente desconfiança quanto à capacidade do governo de manter um arcabouço fiscal sólido e coerente. Para os gestores, o aumento do IOF não resolve os desafios estruturais das contas públicas e, ao contrário, pode comprometer ainda mais o ambiente político, já desgastado por sucessivas tensões entre o Executivo e o Legislativo. O anúncio do imposto provocou um abalo nas expectativas do mercado e acendeu o alerta para os riscos de instabilidade fiscal.

Além da crítica à proposta do IOF, as gestoras destacaram um ponto preocupante: o risco fiscal crescente vem pressionando os juros reais de longo prazo. Essa elevação, além de refletir a perda de credibilidade nas contas públicas, compromete a capacidade do governo de estimular a economia, já que juros mais altos encarecem o crédito e dificultam investimentos produtivos.

O desconforto com a política econômica não se limita ao cenário interno. No panorama internacional, gestoras como a Ibiúna e o Opportunity também chamaram atenção para os riscos vindos dos Estados Unidos. Embora exista a expectativa de que o Federal Reserve inicie cortes nas taxas de juros, o comportamento expansionista da política fiscal americana pode limitar a ação do banco central e manter a inflação em níveis elevados. Além disso, permanece um quadro de incerteza com indicadores econômicos divergentes: enquanto alguns dados mostram resiliência da atividade econômica, outros apontam para uma desaceleração significativa nos próximos meses.

Em meio a esse ambiente de incertezas, as gestoras ajustaram suas estratégias para proteger seus portfólios. A Legacy Capital, por exemplo, adotou uma postura conservadora e teve retorno positivo de 1,62% em maio, acumulando 5,01% no ano. A Ibiúna Asset seguiu com posições defensivas e prepara-se para diferentes cenários de deterioração fiscal, embora seu fundo tenha registrado leve recuo de 0,28% no mês.

Já o Opportunity optou por reduzir sua exposição direcional e operar com posições técnicas mais cautelosas, refletindo seu receio com a instabilidade local. Seu fundo multimercado registrou perda de 1,13% no mês. A Adam Capital, por sua vez, manteve uma visão cética quanto à força do dólar e adotou posição vendida em moedas da Europa e de países emergentes, obtendo um sólido ganho de 3,35% em maio.

Em resumo, a percepção geral entre os grandes gestores é de que o governo precisa avançar em reformas estruturais e abandonar soluções paliativas para garantir estabilidade fiscal e confiança do mercado.

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