Por que o Brasil se destaca na América Latina enquanto o mundo encara desafios econômicos?

 


Enquanto a atividade econômica na América Latina segue moderada em 2025, o Brasil aparece como exceção, impulsionado por uma forte demanda interna. É o que aponta o relatório anual do Banco de Compensações Internacionais (BIS), conhecido como o “banco central dos bancos centrais”. Apesar do crescimento, a inflação preocupa e obriga o Banco Central brasileiro a elevar a taxa de juros para conter pressões inflacionárias.

Crescimento econômico e inflação: um contraste na região

De acordo com o BIS, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 1,4% no primeiro trimestre de 2025, sustentado por um mercado de trabalho apertado e transferências fiscais robustas. Em contraste, outras economias da América Latina têm registrado atividade econômica mais fraca. O avanço da inflação, contudo, tem sido mais lento em alguns países, incluindo Brasil, Chile e Colômbia, por fatores internos como demanda privada aquecida, reajustes de preços regulados e desvalorização cambial.

O Banco Central do Brasil reagiu com rapidez, elevando a taxa Selic de 14,75% para 15% ao ano, medida que deve permanecer até pelo menos o fim de 2025, segundo projeções do boletim Focus.

Expectativas de inflação: o desafio global que afeta famílias e bancos centrais

O relatório do BIS revela que famílias em 29 países, ricos e emergentes, esperam inflação em torno de 8% nos próximos 12 meses — muito acima da média atual de 2,4%. Essa percepção elevada, mesmo que parcialmente exagerada, influencia o comportamento econômico e exige vigilância dos bancos centrais para evitar pressões inflacionárias persistentes.

Pesquisa também mostra que os surtos temporários de inflação causados pela pandemia deixaram marcas duradouras na percepção das pessoas, dificultando a ancoragem das expectativas inflacionárias.

Tarifas de Trump e o cenário global incerto

O BIS também destaca que as políticas comerciais dos EUA, especialmente as tarifas impostas pelo governo Trump, aumentaram a incerteza global e dificultam uma recuperação econômica suave. Essas medidas alteram as relações econômicas tradicionais e complicam a trajetória da inflação para a meta de 2% ao ano em várias economias.

Apesar disso, o gerente-geral do BIS, Agustín Carstens, afirma que as tarifas podem tanto dificultar a desinflação quanto, em algumas regiões, aliviar a pressão inflacionária, criando desafios complexos para os bancos centrais.

Fiscal e riscos geopolíticos: o impacto da dívida pública e do Oriente Médio

O BIS alerta que a dívida pública tem crescido rapidamente em muitos países, exigindo ajustes fiscais para evitar crises futuras. Carstens reforça que quanto antes os governos adotarem medidas responsáveis, menores os impactos econômicos negativos.

Sobre a tensão no Oriente Médio, o relatório destaca que o recente cessar-fogo entre Israel e Irã é monitorado, já que um choque prolongado nos preços do petróleo poderia gerar impactos econômicos significativos e pressionar a inflação global.

Independência dos bancos centrais em meio a pressões políticas

Por fim, o BIS defende a autonomia dos bancos centrais diante de pressões políticas, como as do presidente Trump contra Jerome Powell, chefe do Federal Reserve. O banco central autônomo é fundamental para garantir a estabilidade econômica e evitar efeitos devastadores de políticas monetárias influenciadas por interesses políticos.

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