As preocupações em torno da política comercial dos Estados Unidos impulsionaram uma queda significativa do dólar no mercado global nesta segunda-feira, com impacto direto também no Brasil. A moeda norte-americana fechou em baixa frente ao real, refletindo o temor dos investidores de que as recentes ameaças tarifárias do governo Trump possam provocar desaceleração econômica e aumento da inflação nos EUA.
A instabilidade começou a se desenhar na última sexta-feira, quando o presidente Donald Trump anunciou a intenção de dobrar as tarifas sobre aço e alumínio importados, elevando-as dos atuais 25% para 50%. Essa medida ampliou a pressão sobre os produtores globais desses metais e reacendeu os temores de uma escalada na guerra comercial entre os Estados Unidos e outros países, especialmente a China. O presidente americano também acusou o país asiático de violar acordos comerciais, agravando ainda mais as tensões.
Diante desse cenário, os investidores passaram a evitar ativos americanos, resultando em uma desvalorização do dólar tanto no mercado internacional quanto no brasileiro. Na B3, o dólar comercial fechou cotado a R$ 5,6740, com uma queda de 0,81% no dia. O dólar futuro para julho, contrato mais líquido no Brasil, registrou queda ainda maior, de 1,02%, encerrando a sessão a R$ 5,7095.
Desde o início do ano, a moeda americana acumula desvalorização de 8,17% frente ao real, evidenciando a tendência de fortalecimento da moeda brasileira frente ao dólar no atual ambiente de mercado.
No Brasil, a valorização do real também foi influenciada por outros fatores locais. Entre eles, as incertezas fiscais geradas pela proposta de aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) pelo governo federal. Desde o anúncio da medida no final de maio, os ativos brasileiros enfrentam pressões, mesmo com o recuo do governo em algumas das alíquotas. A postura do governo diante do Congresso, que criticou duramente a tentativa de elevação do imposto, contribuiu para um ambiente de tensão política e econômica.
Durante o dia, o dólar oscilou entre R$ 5,6669 e R$ 5,7109, com a moeda estrangeira mostrando recuperação momentânea, mas seguindo a tendência de queda impulsionada pela reação dos mercados internacionais. O cenário externo, especialmente o avanço do discurso protecionista norte-americano, foi o principal motor dessa dinâmica.
Além disso, a valorização do petróleo, motivada pelas incertezas geopolíticas relacionadas ao conflito entre Rússia e Ucrânia, também contribuiu para atrair investidores a mercados emergentes, beneficiando o real.
Em meio a esse contexto, o ministro da Fazenda do Brasil manifestou expectativa de que a questão do IOF seja resolvida ainda nesta semana, combinando as mudanças no imposto com medidas estruturais para equilibrar as contas públicas. A disposição de líderes do Congresso para debater alternativas fiscais sugere um esforço para reduzir as incertezas que pesam sobre o mercado financeiro.
No mercado externo, o índice do dólar, que acompanha o desempenho da moeda americana frente a uma cesta de seis divisas principais, caiu 0,70%, chegando a 98,661 pontos. Paralelamente, o Banco Central brasileiro atuou vendendo contratos de swap cambial, buscando dar liquidez e manter a estabilidade do mercado.
A combinação dos fatores externos ligados às políticas comerciais dos EUA e os desafios fiscais internos colocam o real em posição favorável no curto prazo, ainda que o cenário exija atenção constante dos investidores diante da volatilidade global.
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