O encerramento das operações do QuintoCred Garantia, produto de garantia locatícia oferecido pelo QuintoAndar em parceria com cerca de 3 mil imobiliárias pelo Brasil, surpreendeu o mercado imobiliário e acendeu alertas sobre a fragilidade estrutural desse segmento no país. A medida impacta diretamente 45 mil contratos de locação ativos e marca uma inflexão importante no caminho das garantias digitais no Brasil.
Segundo o QuintoAndar, a decisão faz parte de uma reestruturação interna com foco em áreas mais estratégicas, como tecnologia e serviços de maior impacto. Com isso, o QuintoCred deixará de aceitar novos contratos e será encerrado por completo até 2 de outubro de 2025. A empresa destacou ainda que o produto era voltado exclusivamente para imobiliárias e não afeta contratos firmados diretamente em sua plataforma entre locadores e inquilinos.
Apesar dessa distinção, o encerramento do serviço gera incertezas para milhares de locadores e locatários que confiavam na estabilidade dessas garantias. A medida levanta questionamentos sobre a segurança jurídica e a solidez das empresas que atuam nesse nicho, muitas vezes sem regulação clara e oferecendo produtos semelhantes ao seguro-fiança, porém sem o mesmo respaldo técnico e legal das seguradoras tradicionais.
A retirada de um player relevante como o QuintoAndar desse mercado também reflete tensões econômicas. Especialistas apontam que a rentabilidade desse tipo de operação pode ser inferior à de outras atividades da empresa, como a intermediação na venda direta de imóveis. Além disso, alguns modelos de garantia adotados por startups têm sido criticados por se assemelharem a esquemas de pirâmide, onde o pagamento de inadimplências depende da entrada constante de novos clientes.
O episódio também lança luz sobre a ausência de um marco regulatório que estabeleça regras claras para atuação das garantidoras digitais. Sem normas específicas e fiscalização efetiva, cresce o risco de colapsos no setor e de perda de confiança por parte de consumidores e parceiros comerciais. Isso pode levar o mercado a retroceder para modelos mais tradicionais, como fiador e caução, ainda que sejam menos eficientes e mais onerosos.
Apesar do cenário instável, o setor de garantias locatícias ainda é visto como promissor. Estimativas indicam que ele pode movimentar até R$ 36 bilhões, o que continua atraindo o interesse de empresas consolidadas e startups. Um exemplo é a parceria recente entre o Grupo OLX e a fintech Creditas, que visa oferecer soluções alternativas para mais de 30 mil imobiliárias em todo o país.
A decisão do QuintoAndar, portanto, funciona como um alerta para o setor. Ao mesmo tempo em que evidencia os riscos operacionais e legais do modelo atual, aponta para a urgência de estabelecer diretrizes claras e promover um ambiente seguro para inovação. Sem essa base, o objetivo de facilitar o acesso à moradia por meio de soluções digitais pode se transformar em mais um obstáculo no já complexo mercado de locações brasileiro.
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