Após três meses seguidos de crescimento, o setor varejista brasileiro apresentou retração em abril, sinalizando um possível início de desaceleração da atividade econômica no segundo trimestre de 2025. De acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada pelo IBGE, as vendas no varejo caíram 0,4% em relação a março. O resultado veio levemente pior do que o esperado, ainda que dentro do intervalo projetado por analistas.
Essa retração no comércio ocorre em paralelo aos dados da produção industrial, que praticamente estagnaram (+0,1%) no mesmo mês. Juntas, as duas informações reforçam a percepção de um desaquecimento na economia brasileira. Ainda assim, especialistas alertam que é cedo para confirmar uma tendência definitiva, uma vez que a base de comparação elevada dos meses anteriores pode ter influenciado os resultados mais recentes.
O recuo registrado em abril afetou principalmente os setores mais sensíveis ao crédito, como o de veículos, e aqueles mais diretamente ligados à renda, como o de hipermercados e supermercados. Dos oito grupos pesquisados, quatro apresentaram retração, sendo os de maior peso os mais afetados, como o de alimentos, bebidas e combustíveis.
Apesar da queda pontual, o setor varejista ainda acumula crescimento de 2,1% no ano e de 3,4% nos últimos 12 meses. Economistas destacam que a demanda interna segue sustentada por uma combinação de fatores positivos, entre eles o mercado de trabalho aquecido, o aumento da massa salarial e medidas de estímulo adotadas pelo governo. A taxa de desemprego está nos menores níveis desde 2012, e o emprego formal continua em trajetória de expansão.
Mesmo diante de um cenário econômico mais desafiador, muitos analistas mantêm projeções otimistas, ainda que moderadas, para o restante do ano. A expectativa é de que o setor continue crescendo, mas em um ritmo mais contido. Projeções variam entre uma expansão de 0,4% a 0,5% para o segundo trimestre, com crescimento anual próximo de 2%, abaixo dos 3,7% registrados em 2024.
Entre os fatores que explicam o esfriamento do consumo estão a manutenção dos juros elevados, que restringem o crédito, e os efeitos residuais da inflação sobre o poder de compra das famílias. A retirada de estímulos fiscais também contribui para a perda de fôlego em setores antes impulsionados por incentivos temporários.
Especialistas do mercado financeiro e instituições como Itaú, Bradesco e C6 Bank interpretam os dados de abril como um sinal de que a política monetária está começando a surtir efeito na contenção da demanda, o que pode ajudar no controle da inflação. No entanto, alertam que a desaceleração ainda é incipiente e depende da continuidade da geração de empregos e da estabilidade dos salários para se manter equilibrada.
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