Uma iniciativa liderada por médicos de Pernambuco promete transformar o diagnóstico de doenças hematológicas no Sistema Único de Saúde (SUS). A startup HemoDoctor desenvolveu uma plataforma inovadora baseada em inteligência artificial (IA), capaz de analisar hemogramas automaticamente, sugerir hipóteses diagnósticas e indicar exames complementares. A proposta tem potencial para acelerar diagnósticos, economizar recursos e ampliar o acesso à saúde em regiões com escassez de especialistas.
A ferramenta tem como foco principal doenças graves como leucemias, mielodisplasias e mieloma múltiplo. Essas enfermidades, que exigem diagnóstico precoce e tratamento especializado, são frequentemente detectadas tardiamente no Brasil, o que agrava os custos para o sistema público e reduz as chances de sucesso terapêutico. Com a aplicação da tecnologia da HemoDoctor, estima-se uma economia anual de até R$ 300 milhões ao SUS, considerando a redução de internações prolongadas e tratamentos de alta complexidade.
O cenário atual da hematologia no país ajuda a explicar o impacto da inovação. Segundo dados da Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (ABHH), em 2024 o Brasil contava com apenas 3.271 hematologistas. Além da baixa oferta, há forte desigualdade na distribuição desses profissionais, especialmente fora dos grandes centros urbanos. Com isso, médicos generalistas da atenção primária muitas vezes precisam interpretar hemogramas sem apoio especializado, o que pode levar a subdiagnósticos ou tratamentos inadequados.
A plataforma da HemoDoctor foi projetada justamente para atuar na atenção primária. Por meio da análise automatizada de hemogramas, o sistema identifica padrões indicativos de doenças mais complexas e alerta os profissionais sobre a necessidade de investigação adicional. O objetivo é fornecer suporte decisivo a médicos que atuam em áreas desassistidas, ajudando a reconhecer sinais precoces de patologias que poderiam passar despercebidas.
Um diferencial importante do sistema é sua eficácia já demonstrada em ambiente real. Em uma prova de conceito no Hospital da Unimed em Petrolina, a IA analisou mais de 600 hemogramas com 94% de especificidade, o que validou sua precisão diagnóstica e mostrou um índice de erro extremamente baixo. Os resultados apontam que a ferramenta pode ser usada com segurança para triagem inicial e priorização de pacientes.
Além de agilizar diagnósticos, a tecnologia desenvolvida pela HemoDoctor pode atuar na organização do sistema de saúde, contribuindo para a redução de filas, a prevenção de internações desnecessárias e a otimização dos recursos disponíveis. Casos como a Leucemia Linfoide Aguda, por exemplo, demandam internações médias de 25 dias e podem ter custos de até R$ 1 milhão por paciente, somando terapias, transplantes, suporte clínico e impactos sociais.
A startup também planeja novas versões da plataforma, com funcionalidades como tele-hematologia e dashboards epidemiológicos. Com esses recursos, médicos de todo o país poderão contar com suporte remoto em tempo real, e gestores terão acesso a informações estratégicas para planejar políticas de saúde.
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