Tensões no Oriente Médio ameaçam safra e exportações de grãos do Brasil; perdas podem chegar a R$ 5 bilhões

 


As recentes tensões geopolíticas no Oriente Médio estão provocando uma onda de preocupação entre produtores e exportadores de grãos no Brasil, justamente em um momento crucial para o agronegócio nacional. O conflito envolvendo países-chave, como o Irã — grande fornecedor de fertilizantes e importador estratégico — gera impactos que podem ultrapassar os R$ 5 bilhões em perdas para os produtores brasileiros, segundo estimativas do fundador da comercializadora AgriBrasil, Frederico Humberg.

O principal desafio está no aumento dos custos dos insumos agrícolas. A ureia, um fertilizante essencial para a produção de milho, teve seu preço elevado em cerca de US$ 100 por tonelada nas últimas semanas, um impacto direto das sanções e instabilidades no Oriente Médio. Além disso, o custo do frete marítimo subiu cerca de 20%, chegando a valores em torno de US$ 7 por tonelada em algumas rotas comerciais, fator que onera ainda mais as exportações brasileiras.

O Irã representa entre 17% e 20% da demanda brasileira por ureia e foi responsável pela compra de cerca de 12% das exportações de milho do Brasil no ano passado, volume que equivale a aproximadamente 4,5 milhões de toneladas. Com isso, o fechamento ou retração desse mercado cria um enorme vazio para os agricultores, que agora veem seus negócios ameaçados e buscam alternativas para escoar a produção.

A safra brasileira de milho 2025/26 é estimada pela consultoria Agroconsult em cerca de 44 milhões de toneladas, um volume expressivo que coloca o Brasil como um dos maiores exportadores globais da commodity. No entanto, a perspectiva de uma oferta abundante dos Estados Unidos, Argentina e Ucrânia intensifica a concorrência internacional, pressionando ainda mais os preços e as margens dos produtores brasileiros.

Produtores do Mato Grosso e Tocantins, regiões vitais para o agronegócio nacional, relatam dificuldades crescentes. Maurício Buffon, agricultor de Tocantins, afirmou que, com o fechamento do mercado iraniano, uma quantidade significativa de milho teve que ser redirecionada para o mercado interno, menos lucrativo. “Tenho muito milho para comercializar, mas infelizmente o mercado de 4,5 milhões de toneladas fechou”, lamentou.

No interior do país, o receio e a incerteza dominam as decisões de compra dos insumos para a próxima safra de soja, que começa a ser plantada em setembro. O produtor Endrigo Dalcin, de Mato Grosso, descreveu um cenário estagnado: “Os silos estão cheios e os bolsos vazios”. A volatilidade do câmbio e a alta nos preços desestimulam investimentos, deixando os agricultores em um momento de grande vulnerabilidade.

Problemas logísticos também aparecem. Marcos da Rosa, também de Mato Grosso, enfrentou atraso na entrega de fertilizantes e rejeitou um ressarcimento financeiro oferecido pelo fornecedor, argumentando que o valor não cobriria a compra do mesmo insumo a preços atuais. “Vem uma guerra no meio do caminho, aumentando os custos e ainda deixando o Brasil sujeito a perder um importador fundamental”, resumiu.

Enquanto os agricultores tentam navegar por esse cenário desafiador, as perspectivas para a safra e para as exportações brasileiras permanecem incertas, impactando não só o bolso dos produtores, mas também a cadeia produtiva e a balança comercial do país. O desfecho do conflito no Oriente Médio será decisivo para os rumos do agronegócio nacional nos próximos meses.


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