Ações europeias recuam após acordo EUA-UE decepcionar parte do mercado

 


As bolsas europeias interromperam uma sequência de ganhos e fecharam em leve baixa nesta segunda-feira (28), após atingirem mais cedo uma máxima de quatro meses. O movimento refletiu o alívio inicial com o anúncio de um acordo comercial entre Estados Unidos e União Europeia, que acabou perdendo força à medida que investidores digeriram os detalhes do entendimento.

O índice pan-europeu STOXX 600 chegou a avançar até 1% no início da sessão, tocando o maior nível desde março. O otimismo foi sustentado pela confirmação de que as negociações prolongadas entre Washington e Bruxelas resultaram em uma tarifa básica de 15% dos EUA para a maioria dos produtos europeus, bem abaixo dos 30% inicialmente ameaçados pelo governo Donald Trump.

Contudo, o clima positivo se dissipou ao longo do dia, e o índice fechou em queda de 0,2%, refletindo a percepção de que o acordo ficou aquém das expectativas de alguns agentes de mercado, que apostavam em uma solução mais próxima de tarifas zero, como nos moldes do regime anterior à escalada protecionista.

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Para analistas, embora o recuo nas tarifas tenha evitado uma escalada mais dura da guerra comercial, o patamar de 15% ainda representa um aumento relevante sobre as taxas médias praticadas antes de 2025, quando muitos produtos europeus enfrentavam tarifas em torno de 2,5% a 3%. “Ainda que menos severa, a nova tarifa representa um salto considerável em relação aos níveis pré-crise e deve alimentar pressões inflacionárias, sobretudo em setores dependentes de exportação”, comentou Lale Akoner, estrategista da eToro.

Setores mais afetados

Entre os setores que mais sentiram a repercussão negativa do acordo, a indústria automobilística foi destaque. As ações de montadoras caíram em média 1,7%, uma vez que a tarifa básica reduz os impostos de importação de carros para 15%, mas ainda assim mantém um patamar elevado em relação ao período de isenção tarifária que vigorou por anos.

Outro segmento que não encontrou alívio foi o de bebidas alcoólicas. As ações da Pernod Ricard e da Anheuser-Busch InBev recuaram 3,5% e 3,6%, respectivamente. Isso porque o acordo comercial não inclui nenhuma cláusula específica para o setor, que esperava avanços em relação a restrições adicionais impostas nos últimos anos.

Desempenho por praças

Entre as principais bolsas da Europa, o movimento foi majoritariamente negativo. Em Londres, o índice FTSE 100 encerrou o pregão em baixa de 0,43%, aos 9.081,44 pontos. Em Frankfurt, o DAX caiu 1,02%, fechando a 23.970,36 pontos, refletindo o peso das ações de montadoras e exportadoras. Em Paris, o CAC-40 recuou 0,43%, para 7.800,88 pontos.

Já em Madri, o Ibex-35 terminou o dia com leve baixa de 0,12%, a 14.220,20 pontos. Em Lisboa, o PSI20 perdeu 0,44%, caindo para 7.672,94 pontos. A única exceção entre os principais índices foi Milão: o FTSE/MIB avançou 0,01%, fechando praticamente estável a 40.732,34 pontos.

Perspectivas

Para os próximos dias, investidores devem seguir monitorando a evolução de desdobramentos do acordo e o impacto sobre as projeções de inflação e competitividade das exportações europeias. A expectativa é de que, mesmo com tarifas moderadas, setores como automóveis, alimentos e bebidas sigam pressionados, o que pode pesar nos balanços corporativos do segundo semestre.


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