Acordo EUA-UE faz dólar disparar e mercado brasileiro adota cautela antes do tarifaço

 


O dólar voltou a ganhar força nesta segunda-feira (28), avançando frente a praticamente todas as moedas do mundo — inclusive o real — em um movimento alimentado por uma combinação de fatores externos e internos. No centro do cenário global, o fechamento de um acordo comercial entre Estados Unidos e União Europeia impulsionou a moeda norte-americana, enquanto no Brasil, a proximidade da imposição de tarifas de 50% sobre os produtos brasileiros pelo governo de Donald Trump reforçou a busca dos investidores por proteção cambial.

De acordo com o Bradesco BBI, cresce o temor em relação à falta de entendimento entre Brasil e EUA, principalmente depois de Trump reafirmar, no fim de semana, que não pretende adiar o prazo para o tarifaço entrar em vigor a partir de 1º de agosto. Embora uma comitiva de senadores brasileiros tenha iniciado reuniões em Washington, as chances de um acordo concreto até sexta-feira ainda são vistas como remotas pelo mercado.

Nesta segunda, o dólar à vista fechou em alta de 0,54%, cotado a R$ 5,5925 — o maior valor desde 4 de junho, quando terminou o dia a R$ 5,645. No ano, porém, a moeda americana ainda acumula queda de quase 9,5% frente ao real, evidenciando o ganho de força recente. O dólar turismo também subiu, chegando a ser vendido a R$ 5,78 em casas de câmbio.

Durante o pregão, a cotação mínima registrada foi de R$ 5,5686 às 10h04, mas o avanço ganhou força ao longo da manhã, atingindo a máxima de R$ 5,6069 às 10h47. O movimento acompanhou a valorização do dólar frente a outras divisas. O índice DXY, que mede o desempenho da moeda americana frente a uma cesta de seis moedas fortes, subia 1,07% no fim da tarde, com ganhos especialmente expressivos sobre o iene, o euro e a libra.

O ambiente internacional colaborou para essa disparada. O entendimento entre EUA e União Europeia, que fixou uma tarifa básica de 15% sobre produtos europeus, foi interpretado por parte dos investidores como um sinal de distensão na guerra comercial que vinha se intensificando nos últimos meses. A reação positiva elevou os rendimentos dos Treasuries, reforçando o apetite por dólar como porto seguro.

No mercado doméstico, entretanto, o clima de cautela foi determinante. Mesmo com o avanço de algumas commodities, como minério de ferro e petróleo — que em condições normais favorecem moedas de países exportadores como o Brasil — o receio sobre o impacto do tarifaço de Trump manteve os investidores posicionados em ativos defensivos. “A demanda por proteção cambial aumentou nos mercados emergentes, mesmo com a alta das commodities. O foco do investidor hoje é blindagem”, comentou Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad.

Sem sinais claros de avanço nas negociações entre Brasília e Washington, o mercado local fica cada vez mais atento a qualquer novidade de última hora. As articulações diplomáticas seguem, mas a possibilidade de uma solução relâmpago parece cada vez mais restrita.

Analistas alertam que, caso o tarifaço se concretize sem exceções, setores exportadores estratégicos podem sofrer impactos expressivos, forçando revisões de projeções para o real. Por ora, o dólar segue como refúgio em meio ao impasse comercial e à aproximação da Super Quarta, quando Copom e Federal Reserve anunciam suas decisões de juros.

Enquanto isso, o mercado cambial aguarda o próximo capítulo dessa disputa, que promete mexer ainda mais com os números nas mesas de operações nos próximos dias.

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