A última semana de julho começou sob intensa pressão para diplomatas, empresários e governos que tentam, até o dia 1º de agosto, escapar das novas tarifas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O prazo estabelecido pela Casa Branca determina que, sem acordos bilaterais ou isenções formalizadas, produtos de diversos países passarão a pagar taxas extras que podem chegar a 50% para entrar no mercado americano.
O Brasil é um dos países que ainda não garantiram proteção contra essa sobretaxa. O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, tem buscado alternativas de última hora para abrir um canal direto de diálogo com Washington. Em compromissos recentes em São Paulo, Alckmin classificou a nova política tarifária americana como “inadequada”, mas até agora não obteve avanços concretos. Enquanto isso, setores como siderurgia, autopeças e linha branca de eletrodomésticos seguem expostos ao aumento de custos que poderá comprometer exportações e gerar impactos na economia interna.
A estratégia brasileira envolve mobilizar empresários e parlamentares americanos para tentar influenciar o governo Trump. Ainda assim, a falta de resposta direta da Casa Branca mantém o risco elevado. Fontes da diplomacia afirmam que o governo aposta em articulações de bastidores até o último minuto para tentar, ao menos, minimizar os efeitos das medidas.
A disputa tarifária não é exclusiva do Brasil. A China, maior parceira comercial dos EUA, também ainda não fechou acordo definitivo. Desde fevereiro, Trump subiu a tarifa sobre produtos chineses para 10%, depois para 54% e, em resposta às retaliações de Pequim, para 125% em menos de uma semana. Um “cessar-fogo” de 90 dias foi negociado em maio, mas expira em 12 de agosto e ainda não há sinal de um entendimento que reverta as sobretaxas. Enquanto isso, novas rodadas de negociação entre autoridades chinesas e americanas ocorrem na Europa.
Países do entorno norte-americano também estão na mira. Canadá e México, parceiros no USMCA, receberam notificações de tarifas adicionais. O Canadá, que já sofre com uma tarifa de 25% desde março, agora encara mais 35% sobre produtos fora do acordo de livre comércio. Além da cobrança, Trump fez provocações políticas, insinuando anexar o Canadá como “51º Estado”, aumentando a tensão entre os vizinhos. Já o México tenta assegurar exceções para eletrônicos, autopeças e fertilizantes, mas ainda não obteve concessões.
Por outro lado, nações que se anteciparam à disputa garantiram condições mais brandas. Japão, União Europeia, Reino Unido, Vietnã, Indonésia e Filipinas já firmaram termos que reduzem ou suavizam as tarifas americanas. No caso da União Europeia, por exemplo, a taxa caiu de 30% para 15% em troca de investimentos bilionários no território americano e parcerias no setor energético. O Japão também negociou redução para 15% com compromissos de abertura de mercado. O Vietnã acertou diminuição significativa de tarifa, mas aceitou restrições para produtos de terceiros países que triangulam exportações pelo seu território.
Com o prazo final se aproximando, a pressão aumenta sobre países que ainda buscam uma solução. Enquanto isso, mercados globais reagem: o Ibovespa opera em queda, o dólar sobe e empresas ajustam previsões. Se nada mudar até sexta-feira, o Brasil e outras economias poderão enfrentar barreiras comerciais duras, num cenário que reacende temores de uma nova guerra tarifária de alcance global.
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