A poucos dias da entrada em vigor das tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o Brasil permanece isolado e distante de qualquer acordo para aliviar a taxação. As tarifas, que começam a valer em 1º de agosto, fazem parte de uma estratégia do governo norte-americano para pressionar parceiros comerciais e garantir concessões em áreas estratégicas — e, no caso brasileiro, também têm motivação política.
Enquanto Brasília patina nas negociações, outros países e blocos conseguiram avanços. O mais recente é a União Europeia, que firmou neste domingo (27) um pacto para aceitar uma tarifa de 15% sobre os produtos europeus exportados aos EUA. Em contrapartida, o bloco se comprometeu a ampliar suas compras de energia e equipamentos militares de origem norte-americana e anunciou um pacote robusto de investimentos diretos de US$ 600 bilhões nos Estados Unidos.
No cenário brasileiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mantém distância de interlocuções diretas com Trump. Já o vice-presidente Geraldo Alckmin, encarregado de abrir diálogo, ainda não conseguiu avanços concretos para mitigar a tarifa de 50% — a mais alta entre todos os países afetados pelo novo pacote de medidas protecionistas.
Neste domingo, Trump reforçou, em reunião com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que não irá adiar o prazo de 1º de agosto para impor a sobretaxa de 50% a seus parceiros comerciais, mantendo o Brasil na lista de alvos prioritários de sua ofensiva comercial.
Desde o anúncio inicial das tarifas, em abril, apenas cinco países conseguiram fechar acordos com Washington. São eles: Reino Unido, Vietnã, Indonésia, Filipinas e Japão. Cada um aceitou percentuais menores de taxação, em troca de abrir seus mercados e garantir benefícios a empresas norte-americanas.
No caso do Reino Unido, por exemplo, um acordo firmado em 8 de maio reduziu a tarifa inicial de 25% para 10% sobre produtos britânicos exportados, em troca de uma abertura de mercado e redução de tarifas locais. Já a China concordou em baixar temporariamente tarifas recíprocas em 115 pontos percentuais e retomou negociações para buscar uma trégua mais ampla.
O Vietnã, por sua vez, aceitou pagar 20% de tarifa sobre exportações e até 40% sobre reexportações, mas isentou totalmente a entrada de produtos dos EUA em seu território. Indonésia e Filipinas também reduziram taxas e abriram mercados. Já o Japão selou um acordo que inclui tarifa recíproca de 15% e um pacote de investimentos bilionário de US$ 550 bilhões em solo americano.
Enquanto isso, a indústria brasileira teme os impactos de uma tarifa tão alta sem qualquer tipo de contrapartida ou compensação. Empresários pressionam o governo federal por soluções diplomáticas, mas a ausência de interlocução direta com Trump torna o cenário mais difícil. Especialistas apontam que, sem um canal político robusto e uma agenda clara de concessões, o Brasil pode ser um dos poucos grandes parceiros comerciais a enfrentar o custo total do novo pacote de tarifas.
Faltando menos de uma semana para o prazo final, a expectativa do mercado é de pressão máxima em Brasília — ainda que, até o momento, o sinal de entendimento pareça cada vez mais distante.
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