Em um momento de tensões geopolíticas crescentes e disputas comerciais que afetam cadeias globais de produção, a China sinalizou nesta quarta-feira (30) que pretende reforçar os laços com os Estados Unidos. A declaração partiu do ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, que pediu mais diálogo e cooperação para evitar confrontos diretos entre as duas maiores potências do mundo.
O recado foi dado durante um encontro em Pequim com uma delegação de peso formada por executivos de gigantes norte-americanas como Goldman Sachs, Boeing e Apple — empresas diretamente impactadas por qualquer movimento de escalada tarifária ou restrições mútuas. De acordo com o Ministério das Relações Exteriores da China, Wang reforçou que Pequim está disposta a aumentar o engajamento, evitar erros de cálculo e gerenciar as diferenças de forma pragmática.
A fala do ministro ocorre logo após uma nova rodada de negociações comerciais entre representantes chineses e norte-americanos, que terminou em Estocolmo com um aceno positivo: os dois lados concordaram em estudar a extensão de uma trégua tarifária de 90 dias, assinada em maio, como forma de conter novos embates que possam prejudicar ainda mais o comércio global.
No discurso, Wang Yi também destacou que o relacionamento entre China e EUA vai além dos interesses bilaterais, influenciando toda a dinâmica internacional. Para o chanceler chinês, os dois países precisam abrir mais canais de diálogo e consulta, deixando de lado posturas unilaterais ou ações de pressão consideradas “bullying”. A defesa de uma “percepção estratégica correta” sugere que Pequim quer acalmar os ânimos sem abrir mão de suas posições.
O governo chinês, em um gesto claro de pragmatismo, incentivou as empresas norte-americanas a manterem a confiança no mercado chinês e continuarem investindo no país. O apelo vem em meio a preocupações de multinacionais que enfrentam dificuldades na China, seja por regras mais rígidas, seja por tensões políticas que colocam em risco contratos e operações.
Além do encontro com Wang Yi, os executivos americanos também se reuniram com ministros do Comércio e da Indústria da China. Esses encontros fazem parte de uma ofensiva diplomática de Pequim para mostrar que, apesar das disputas, o país segue aberto a negócios e deseja atrair investimento estrangeiro em um momento em que enfrenta desafios como excesso de capacidade em setores tradicionais e necessidade de estímulos para sustentar o crescimento.
No radar de Pequim e Washington está a possibilidade de uma nova cúpula entre os presidentes Donald Trump e Xi Jinping ainda este ano. Na terça-feira, Trump declarou acreditar em uma reunião com Xi antes do fim de 2025, mas sem detalhar datas ou local. Uma possível cúpula seria uma oportunidade de redefinir o tom das relações, que oscilaram entre trégua e ameaça de nova guerra comercial nos últimos meses.
Apesar dos sinais diplomáticos, analistas alertam que a retomada de uma parceria sólida entre China e EUA não será simples. Questões estruturais, como segurança de dados, disputa tecnológica e rivalidade geopolítica na Ásia, seguem como pontos de atrito difíceis de resolver. Para as empresas, porém, qualquer indicativo de estabilidade é bem-vindo, principalmente em um cenário global de juros altos, cadeias produtivas pressionadas e volatilidade nos mercados.
Se o discurso de Wang Yi vai se transformar em avanços práticos ainda é incerto. Mas o encontro com os executivos de gigantes norte-americanas mostra que, pelo menos por ora, Pequim quer enviar uma mensagem: o gigante asiático segue aberto a negócios — desde que os EUA façam o mesmo.
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