China Vai Segurar o Bolso? Por Que o Politburo Resiste a Novos Estímulos em Meio a Tensões com os EUA
Em meio a tensões comerciais com os Estados Unidos e sinais de desaceleração em setores estratégicos, a China decidiu apertar o cinto — pelo menos por enquanto. Em uma reunião nesta quarta-feira (30), o Politburo, principal núcleo de decisões do Partido Comunista Chinês, sinalizou que não pretende lançar novos pacotes de estímulos robustos para impulsionar a segunda maior economia do mundo. A prioridade, segundo o comunicado oficial, será aprimorar a execução das políticas já em vigor e conter excessos que podem ameaçar a estabilidade de longo prazo.
A decisão acontece em um momento delicado para Pequim. De um lado, o setor exportador chinês enfrenta ventos contrários vindos de Washington: o presidente dos EUA, Donald Trump, segue firme na ofensiva tarifária, agora com uma taxa de 25% sobre importações da Índia, além de manter no radar novas sobretaxas sobre produtos chineses. Do outro, o consumo interno ainda não decolou como esperado, e o mercado imobiliário, motor histórico do crescimento chinês, mostra sinais de fraqueza persistente.
Apesar disso, o Politburo preferiu não abrir novas torneiras de crédito ou subsídios massivos. Em vez disso, prometeu intensificar o apoio a setores já beneficiados, como serviços, e ampliar o programa de renovação de bens de consumo — uma forma de estimular a troca de produtos duráveis, como eletrodomésticos e veículos, para manter a indústria rodando.
📉 Pressão nas indústrias e risco de deflação
Outro ponto central discutido na reunião foi o excesso de capacidade produtiva em setores-chave, como siderurgia, energia e manufatura de bens intermediários. Para economistas, essa oferta além da demanda tem pressionado os preços para baixo, gerando temores de deflação — cenário em que os preços caem continuamente, inibindo investimentos e consumo.
O Politburo reafirmou que vai conter essa competição “desordenada” que corrói margens de lucro, indicando que reformas estruturais do lado da oferta podem voltar ao radar — estratégia usada pela China no passado para fechar fábricas menos produtivas e consolidar setores inteiros.
🌍 Comércio externo em xeque, mas ainda resistente
Mesmo diante das barreiras impostas por Trump, os embarques chineses seguem relativamente sólidos. Pequim quer garantir que exportadores em dificuldades tenham suporte financeiro para manter sua presença global. Para isso, o governo prometeu ampliar linhas de crédito e tentar evitar que problemas de dívidas em governos locais contagiem outros elos da economia.
📈 Mercado de capitais na pauta
Outro ponto de atenção do Politburo é a atratividade do mercado de capitais doméstico. O objetivo é torná-lo mais inclusivo e eficiente para captar poupança interna e financiar setores estratégicos, reduzindo a dependência de crédito bancário pesado — medida que também faz parte da agenda de contenção de riscos sistêmicos.
🏠 Habitação segue sem alívio
No setor imobiliário, no entanto, nenhuma nova injeção de liquidez foi anunciada. Para analistas como Louise Loo, chefe de economia para a Ásia da Oxford Economics, a ausência de medidas para reanimar o setor sinaliza o apetite limitado de Pequim para socorrer um segmento que, embora essencial para o PIB, é visto como fonte crônica de bolhas e risco fiscal.
📅 O que esperar do próximo plano quinquenal?
O próximo grande momento para entender o rumo da economia chinesa será a reunião plenária de outubro, quando o Partido Comunista deve definir as linhas gerais do 15º plano quinquenal (2026-2030). Analistas apostam que a autossuficiência tecnológica e a manufatura de ponta estarão no centro da estratégia, preparando a China para uma rivalidade prolongada com os EUA.
🔍 E agora?
Para investidores e parceiros comerciais, o recado é claro: quem esperava mais estímulos deve moderar as expectativas. No curto prazo, o foco do governo chinês parece ser consolidar ajustes estruturais e conter riscos de médio e longo prazo, mesmo que isso signifique crescimento mais lento.
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