O setor da construção civil brasileira demonstra preocupação com os possíveis impactos das tarifas adicionais de 50% anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que podem incidir sobre produtos brasileiros já a partir desta sexta-feira, 1º de agosto. A avaliação é de Renato Correia, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), que destacou nesta segunda-feira (28) o reflexo indireto da medida para a economia nacional.
Embora o segmento da construção tenha pouca participação direta no comércio exterior, Correia frisou que o temor é quanto aos efeitos em cadeia dessas tarifas sobre o Produto Interno Bruto (PIB) e, consequentemente, sobre o ritmo de geração de emprego e renda no país. “Para a construção civil, que exporta pouco, a preocupação é o reflexo disso na economia como um todo, já que o setor depende muito do desempenho do PIB”, avaliou.
A declaração foi feita durante a apresentação do balanço do desempenho do setor no segundo trimestre deste ano. O encontro também trouxe projeções para 2025 e uma análise de riscos que podem comprometer o fôlego conquistado nos últimos anos.
De acordo com a Cbic, a construção civil vive hoje um momento de bons números em geração de empregos. Em maio, o setor registrou o maior contingente de trabalhadores formais em mais de uma década, segundo levantamento baseado nos dados do Caged. Apesar disso, o cenário futuro não está livre de desafios.
Além da ameaça das tarifas norte-americanas, a entidade aponta o ambiente de juros ainda elevados e custos acima da inflação como pontos de atenção. A taxa básica de juros, a Selic, segue em 15% ao ano, o que pressiona o custo de financiamento e encarece o crédito imobiliário, dificultando novos lançamentos e a compra da casa própria.
Diante desse quadro, a Cbic manteve a projeção de crescimento de 2,3% para a construção civil em 2025 — uma desaceleração em relação à estimativa de expansão de 3,4% em 2024. Para Ieda Vasconcelos, economista-chefe da entidade, o resultado positivo para o próximo ano ainda carrega um “leve otimismo” sustentado principalmente por projetos lançados anteriormente, que seguem movimentando obras, empregos e fornecedores.
Contudo, a mesma inércia pode não ser suficiente para contrabalançar a queda na intenção de novos empreendimentos. Segundo a entidade, as expectativas para lançamentos e serviços atingiram o segundo nível mais baixo do ano. Se as taxas de juros permanecerem elevadas, o setor projeta uma desaceleração ainda mais forte a partir de 2026.
Outro ponto de alerta é a retração de quase 63% na quantidade de unidades financiadas com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) nos cinco primeiros meses de 2025 em relação a igual período do ano passado. Essa redução é atribuída diretamente ao custo elevado do crédito em um ambiente de juros altos.
Em paralelo, o mercado financeiro monitora com apreensão o desenrolar das negociações entre Brasil e Estados Unidos. Até o momento, o governo federal, por meio do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, tenta abrir um canal de diálogo direto com Washington para tentar frear a aplicação das novas tarifas. No entanto, não há sinal de acordo fechado, o que mantém o impasse.
Enquanto isso, o câmbio reflete a incerteza. O dólar voltou a subir e já encosta em R$ 5,58, pressionando ainda mais custos do setor, que depende de insumos importados, especialmente para acabamentos e equipamentos.
Assim, a construção civil segue atenta ao cenário político e econômico, torcendo para que a escalada tarifária seja contida antes de gerar impactos mais severos na economia doméstica — que poderiam atingir diretamente o desempenho de um dos setores que mais emprega no país.
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