Crédito em Queda e Inadimplência em Alta: O Que Está Por Trás da Desaceleração dos Empréstimos no Brasil?

 


As concessões de empréstimos no Brasil registraram uma queda de 1,5% em junho na comparação com maio, conforme dados divulgados pelo Banco Central nesta segunda-feira (28). Apesar desse recuo nas liberações, o estoque total de crédito — que representa o montante acumulado de empréstimos ativos no país — continuou a crescer, mas de forma mais lenta, avançando apenas 0,5% no mês e atingindo a marca de R$ 6,686 trilhões.

No acumulado dos últimos 12 meses, o crescimento do estoque total desacelerou para 10,7% em junho, contra 11,8% em maio, indicando que o ritmo de expansão do crédito começa a perder força. Esse movimento pode refletir uma combinação de fatores, como o aumento dos juros, maior cautela dos bancos na concessão de crédito e o comportamento dos consumidores diante do cenário econômico.

Outro ponto de atenção apontado pelo BC foi o aumento da inadimplência no segmento de recursos livres — que são os empréstimos concedidos sem direcionamento governamental, em que as condições são negociadas livremente entre bancos e clientes. A taxa de inadimplência subiu para 5,0% em junho, o maior patamar desde fevereiro de 2018, quando o Brasil ainda vivia um momento econômico bastante delicado.

A inadimplência crescente preocupa porque pode indicar dificuldades financeiras dos tomadores, o que pode levar a um endurecimento ainda maior das políticas de crédito pelos bancos e, consequentemente, a uma desaceleração na economia.

Os dados também mostraram que o spread bancário — que é a diferença entre o custo que os bancos pagam para captar recursos e a taxa que cobram dos clientes — permaneceu estável nos recursos livres, em 31,6 pontos percentuais. Esse indicador elevado indica que, apesar da estabilidade, os custos do crédito para o consumidor continuam altos, refletindo o risco percebido pelos bancos e o ambiente econômico desafiador.

No mês de junho, as concessões de financiamentos com recursos livres recuaram 1,4%, enquanto os empréstimos com recursos direcionados — que são aqueles com condições estabelecidas pelo governo, como o financiamento imobiliário e o crédito agrícola — tiveram uma queda ainda maior, de 2,3%. Essa retração pode ser um sinal de ajuste no mercado, com as instituições financeiras se tornando mais conservadoras diante da expectativa de juros elevados e da pressão inflacionária.

Falando em juros, as taxas cobradas pelos bancos nos empréstimos livres permaneceram estáveis em 45,4% ao ano, um patamar bastante elevado para os consumidores e empresas. Já os juros nos recursos direcionados recuaram ligeiramente, caindo 0,2 ponto percentual, para 11,8%. Essa diferença reforça o papel dos créditos direcionados como instrumentos para fomentar setores estratégicos da economia, apesar das dificuldades gerais do mercado.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve se reunir nesta semana para decidir sobre a taxa Selic, a principal ferramenta para controle da inflação. Depois de subir para 15% em junho, o mercado espera uma pausa no ciclo de alta dos juros, mas o cenário econômico ainda inspira cautela.

Diante desse contexto, o comportamento do crédito e da inadimplência será fundamental para os rumos da economia brasileira nos próximos meses, afetando desde o consumo das famílias até os investimentos empresariais e a geração de empregos.


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