Crise das Terras Raras expõe fraqueza do Japão e alerta os EUA para novo risco com a China

 


O recente embate comercial entre China e Estados Unidos, envolvendo o controle das exportações de minerais de terras raras, reacendeu um alerta antigo para o Japão — que há mais de uma década viveu situação semelhante. O episódio mostra como a dependência global de Pequim nesses materiais estratégicos continua sendo uma arma diplomática poderosa, capaz de pressionar economias inteiras.

Em abril deste ano, a China restringiu novamente a venda de terras raras, afetando diretamente setores-chave do Japão, como a indústria automotiva. A lembrança foi imediata: em 2010, o país foi pego de surpresa quando a China interrompeu o fornecimento desses minerais em meio a uma disputa diplomática envolvendo ilhas reivindicadas por ambos os países. Na época, Tóquio prometeu reduzir a dependência de Pequim, mas o compromisso demorou para sair do papel.

Apesar de ter investido bilhões de ienes em fornecedores alternativos na Austrália e na França, o Japão ainda hoje importa cerca de 70% de suas terras raras da China, segundo a Organização Japonesa para Segurança de Metais e Energia (Jogmec). São minerais essenciais para a produção de carros elétricos, smartphones, turbinas eólicas e até armamentos de última geração.

A lição do Japão serve de exemplo para os Estados Unidos, que também sofreram com a interrupção das exportações chinesas neste ano. Para retomar o fluxo, Washington teve de negociar concessões em um acordo comercial mais amplo com Pequim. Especialistas apontam que, enquanto não houver alternativas economicamente viáveis, romper essa dependência será um desafio caro e lento.

“Todos entenderam a vulnerabilidade, mas seguiram comprando da China porque parecia não haver opções melhores”, resume Kazuto Suzuki, professor da Escola de Políticas Públicas da Universidade de Tóquio. Para ele, a complacência é o maior risco: “Os custos para diversificar são altos, mas a conta da inação pode ser muito maior.”

Nos últimos anos, o Japão intensificou parcerias para tentar reduzir a exposição. Em 2023, o governo japonês e a Sojitz injetaram mais 200 milhões de dólares australianos na mineradora Lynas, uma das principais fornecedoras fora da China. O contrato prevê que até 65% de minerais como disprósio e térbio produzidos pela empresa sejam direcionados ao Japão.

Além disso, empresas japonesas vêm apostando na reciclagem de metais e no desenvolvimento de ímãs que utilizem menor quantidade de elementos críticos, como o neodímio. Apesar disso, especialistas alertam que nenhuma dessas medidas garante independência imediata.

Para analistas, o episódio mostra como os EUA correm o risco de repetir o caminho japonês caso não acelerem investimentos em novas cadeias de suprimentos. Enquanto isso, a China mantém sua posição dominante sobre os 17 elementos das terras raras — um trunfo que Pequim tem usado como moeda de troca em disputas comerciais e geopolíticas.

A crise atual expõe que a promessa de diversificação de fornecedores, feita há 15 anos pelo Japão, ainda é uma meta em construção — e reforça que, no jogo das cadeias globais, quem controla matérias-primas estratégicas segue ditando as regras.

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