Dívida federal bate R$ 7,88 trilhões em junho: o que cabe dentro desse buraco?

 


A dívida pública federal registrou alta de 2,77% em junho na comparação com maio, alcançando o patamar de R$ 7,883 trilhões, conforme dados divulgados nesta segunda-feira (28) pelo Tesouro Nacional. O avanço foi puxado por emissões líquidas robustas e pela incorporação de juros, em um cenário ainda marcado por incertezas externas e fatores internos que mexem com o apetite por risco dos investidores.

De acordo com o relatório, a dívida pública mobiliária federal interna (DPMFi) — formada por títulos emitidos no mercado doméstico — somou R$ 7,581 trilhões no mês, registrando crescimento de 2,99% frente ao mês anterior. Já a dívida pública federal externa (DPFe), que inclui débitos contratados com credores fora do país, ficou em R$ 302,1 bilhões, o que representa uma queda de 2,28% no período.

Segundo o Tesouro, a emissão líquida — diferença entre o volume de papéis emitidos e o resgate de títulos — foi de R$ 154,6 bilhões em junho. Além disso, houve uma incorporação de R$ 65,1 bilhões em juros, fator que também contribuiu para a expansão do estoque da dívida.

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O Tesouro destacou que o mês foi marcado por fatores que mexeram com o humor do mercado. De um lado, o anúncio de um acordo comercial preliminar entre Estados Unidos e China ajudou a elevar o apetite global por ativos de risco. De outro, tensões no Oriente Médio aumentaram a volatilidade, enquanto a expectativa de novas tarifas globais adicionou uma camada de incerteza para os investidores, inclusive no Brasil.

Custo médio recua, mas novas emissões ficam mais caras

No detalhamento do custo da dívida, o Tesouro informou que o custo médio acumulado em 12 meses apresentou leve recuo, passando de 11,73% ao ano em maio para 11,41% ao ano em junho. Apesar disso, o custo médio das novas emissões de títulos da dívida interna subiu no período, saindo de 13,38% para 13,52% ao ano — reflexo do ajuste nos prêmios exigidos pelo mercado diante de riscos fiscais e externos.

Já o prazo médio dos vencimentos da dívida apresentou leve encurtamento, passando de 4,20 anos para 4,14 anos. Esse indicador é relevante porque prazos mais curtos tornam o Tesouro mais vulnerável a oscilações nos juros, exigindo maior agilidade na gestão da rolagem dos papéis.

Liquidez cresce e cobre quase nove meses de vencimentos

A reserva de liquidez, montante em caixa utilizado para cobrir vencimentos de curto prazo, avançou de R$ 861 bilhões em maio para R$ 1,030 trilhão em junho. Segundo o Tesouro, o valor é suficiente para honrar 8,44 meses de vencimentos de títulos — uma ligeira redução frente aos 8,77 meses de cobertura registrados em maio.

Para o mês de julho, o Tesouro apontou que a resiliência da economia norte-americana continuou sustentando o apetite por risco, embora a escalada da guerra comercial, com novas tarifas, tenha trazido volatilidade aos mercados globais e impacto nos juros futuros.

O resultado reforça o desafio do governo de equilibrar as contas públicas em um cenário externo cada vez mais incerto, que combina tensões geopolíticas, negociações comerciais delicadas e impactos diretos sobre custos de financiamento e dívida.


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