O dólar voltou a fechar em alta frente ao real nesta sexta-feira (25), impulsionado por tensões externas e novos sinais de que os Estados Unidos podem avançar com o tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros. A cotação do dólar comercial encerrou o dia com valorização de 0,74%, cotado a R$5,5622, no maior nível do dia. No acumulado semanal, porém, a divisa ainda apresentou queda de 0,45%, após duas semanas seguidas de alta.
A pressão de alta se intensificou depois que fontes revelaram que o governo Donald Trump prepara uma nova declaração de emergência para sustentar legalmente as tarifas contra o Brasil, caso o uso da IEEPA (Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional) seja contestado judicialmente. A expectativa é de que a decisão saia até 31 de julho, véspera da implementação do tarifaço.
Alta generalizada lá fora
No cenário global, o dólar também ganhou força frente a outras moedas fortes, acompanhando a cautela de investidores com a política comercial de Trump, que ameaça uma rodada de tarifas não apenas ao Brasil, mas também a parceiros como Canadá e União Europeia. A aproximação do prazo de 1º de agosto, quando deve começar a cobrança, segue no radar de operadores.
Negociação emperrada
Internamente, o clima segue de incerteza. Na véspera, o vice-presidente Geraldo Alckmin, que também chefia o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, disse ter conversado com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, para tentar abrir espaço de negociação. No entanto, não houve sinal de avanço. Durante um evento em Osasco, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou que o país quer negociar, mas reforçou que não aceitará chantagens.
Déficit externo amplia pressão
Além do ruído político, dados do Banco Central adicionaram pressão sobre o câmbio. Em junho, o Brasil registrou déficit em transações correntes de US$5,131 bilhões, superando a expectativa de mercado, que projetava saldo negativo de cerca de US$4,363 bilhões. Para agravar, os investimentos diretos que normalmente compensam este déficit ficaram abaixo do previsto, somando US$2,810 bilhões, contra projeção de US$4,5 bilhões.
Para analistas, o desempenho fraco reforça o risco de deterioração do balanço de pagamentos em um cenário de tarifas elevadas e fuga de capital estrangeiro. Desde o anúncio do tarifaço, o dólar acumula alta de 2,12% no mês, equivalente a um avanço de 12 centavos de real.
O que esperar do dólar agora?
No mercado futuro, o contrato mais líquido para agosto subia 0,67%, negociado a R$5,5670. O especialista em câmbio Thiago Avallone, da Manchester Investimentos, aponta que parte do impacto da tarifa já está precificado, mas admite que pode haver nova rodada de alta se o impasse não for resolvido.
“O mercado já colocou parte do risco no preço, mas ainda há cautela. Se o tarifaço for mantido, o real pode sofrer mais ajustes”, explica Avallone.
Juros dos EUA aliviam um pouco
No exterior, o rendimento do Treasury de dez anos — referência global — recuava 2 pontos-base, a 4,386%, dando um leve alívio para moedas emergentes. Ainda assim, o real não conseguiu escapar da pressão local.
Para os próximos dias, investidores estarão atentos a novas sinalizações de Washington sobre a base legal do tarifaço, eventuais avanços diplomáticos e aos próximos números do setor externo brasileiro.
Confira as cotações de hoje
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Dólar comercial: R$5,562 (compra) / R$5,562 (venda)
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Dólar turismo: R$5,628 (compra) / R$5,808 (venda)
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