Estocolmo será o palco da trégua decisiva entre EUA e China — o que está em jogo?



Negociadores seniores dos Estados Unidos e da China se encontrarão nesta segunda-feira (29) em Estocolmo, capital da Suécia, para tratar das disputas econômicas que têm marcado a prolongada guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo. O principal objetivo é estender uma trégua que mantém as tarifas elevadas sob controle e evitar uma escalada que poderia causar sérias turbulências nas cadeias globais de suprimentos.

A pressão para um acordo é grande: a China tem até 12 de agosto para fechar um pacto tarifário duradouro com o governo do presidente Donald Trump. A expectativa é que as conversas em Estocolmo, lideradas pelo secretário do Tesouro americano Scott Bessent e pelo vice-primeiro-ministro chinês He Lifeng, possam consolidar o entendimento preliminar alcançado em junho, que pôs fim a semanas de represálias tarifárias no estilo “olho por olho”.

Sem um consenso definitivo, a ameaça de tarifas superiores a 100% paira sobre produtos essenciais para o comércio mundial, com impactos potencialmente devastadores para a economia global. Além disso, a reunião ocorre apenas um dia depois do encontro entre o presidente Trump e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em um campo de golfe na Escócia. As negociações com a União Europeia caminham para um acordo que deve resultar em uma tarifa básica de 15% sobre a maioria dos produtos europeus exportados para os EUA.

Apesar da importância das negociações, analistas comerciais de ambos os lados do Pacífico veem com ceticismo a possibilidade de avanços significativos nesta rodada em Estocolmo. Para muitos, o encontro serve mais para evitar que a guerra comercial se agrave do que para solucionar os entraves mais profundos que cercam a disputa. Porém, o diálogo pode abrir caminho para uma possível reunião entre Trump e o presidente chinês Xi Jinping ainda neste ano, sinalizando um esforço diplomático para acalmar as tensões.

As negociações comerciais entre EUA e China vêm se desenrolando desde maio, com encontros anteriores realizados em Genebra e Londres. O foco principal tem sido reduzir as tarifas retaliatórias que chegaram a níveis de três dígitos, restaurar o fluxo de minerais de terras raras essenciais para a indústria tecnológica, e reabilitar o comércio de chips para inteligência artificial e outros produtos críticos que foram bloqueados por medidas de ambos os lados.

No entanto, até o momento, as conversas não avançaram para tratar questões econômicas mais amplas e complexas. Entre as reivindicações americanas está a crítica ao modelo chinês, que segundo Washington, favorece empresas estatais e exportações subsidiadas, inundando o mercado global com produtos de baixo custo e prejudicando a concorrência internacional. Por sua vez, Pequim denuncia os controles de exportação impostos pelos EUA sobre tecnologias sensíveis, acusando-os de tentar frear o crescimento chinês por meio de medidas de segurança nacional.

“Estocolmo será a primeira rodada significativa de negociações comerciais entre os EUA e a China,” afirmou Bo Zhengyuan, sócio da consultoria Plenum, com sede em Xangai. Para os especialistas, o encontro representa um teste crucial para medir a disposição das duas potências em avançar rumo a um acordo que possa estabilizar o comércio mundial e evitar a escalada de tarifas que ameaça desacelerar a recuperação econômica global.

Enquanto isso, o mundo acompanha atento as negociações, esperando que o diálogo seja capaz de construir uma solução que beneficie não só EUA e China, mas também os demais países diretamente afetados pela maior disputa comercial da atualidade.


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