O governo argentino decidiu dar um passo importante para sustentar a competitividade do agronegócio e, ao mesmo tempo, reforçar seu capital político. No último sábado, 26 de julho, o presidente Javier Milei anunciou a redução de impostos sobre exportação para produtos-chave da pauta agrícola do país, como aves, carne bovina, soja e seus derivados, milho, sorgo e girassol.
As novas alíquotas já começam a valer, trazendo alívio para produtores que se preparavam para a temporada de plantio de 2026. Com a decisão, as tarifas para aves e carne bovina caem de 6,75% para 5%; milho e sorgo passam de 12% para 9,5%; girassol vai de 7,5% para 5,5%; soja, de 33% para 26%; e derivados da soja, de 31% para 24,5%.
A mudança, além de oferecer fôlego ao setor agrícola, tem impacto fiscal considerado modesto. Analistas de mercado calculam que o custo para os cofres públicos seja inferior a 0,2% do PIB neste ano, caindo para menos de 0,1% em 2025. Essa margem, somada à expectativa de aumento de produção e exportação, mantém a meta de resultado primário em 1,6% do PIB dentro do planejado pelo governo.
A decisão de tornar permanente a redução, que havia sido inicialmente aprovada de forma temporária em janeiro, também serve como um gesto de aproximação de Milei com governadores e representantes do setor agropecuário — base relevante para o equilíbrio político do governo em um Congresso fragmentado.
Em paralelo, a sinalização econômica vem em um momento estratégico. O governo enfrenta resistência parlamentar a cortes de gastos em áreas sensíveis, como aposentadorias e benefícios por invalidez. A equipe de Milei já confirmou que pretende vetar propostas que aumentariam esses desembolsos sem contrapartida financeira, reforçando o discurso de austeridade fiscal.
A medida deve ajudar o Executivo a negociar com governadores o apoio necessário para sustentar vetos e evitar derrotas no Congresso. Para as províncias, a redução das taxas de exportação pode ter impacto indireto positivo. Isso porque, enquanto as tarifas de exportação são receita federal exclusiva, o Imposto de Renda, que tende a aumentar com maior atividade econômica no campo, é compartilhado com as administrações locais.
No campo político, Milei também usou o anúncio como palco para reforçar críticas ao kirchnerismo e a parlamentares que apoiam projetos de aumento de despesas sem indicar fontes de financiamento. O discurso mira conter narrativas de oposição que tentam enquadrar o corte de impostos como benefício apenas para grandes produtores, enquanto políticas sociais ficariam de lado.
Na prática, especialistas lembram que o agronegócio argentino tem peculiaridades que desmontam esse argumento. Boa parte da soja do país, por exemplo, é cultivada em terras arrendadas — e, na maioria dos casos, quem planta não é quem é dono das fazendas.
Para o setor, o gesto do governo chega em boa hora, em meio a projeções de queda nos volumes de exportação se o alívio tributário expirasse. Agora, com a prorrogação definitiva, produtores têm mais segurança para planejar a próxima safra, mesmo com a pressão de custos e a necessidade de reforçar produtividade.
Com isso, Milei tenta equilibrar contas públicas, fortalecer sua base de apoio e, de quebra, garantir um fôlego adicional para um dos motores históricos da economia argentina: o agronegócio.
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