Os resultados divulgados pela Heineken nesta segunda-feira (28) apontam para um cenário desafiador no mercado brasileiro de cervejas, que deve refletir no desempenho da Ambev (ABEV3) no segundo trimestre de 2025, cujo balanço será divulgado nesta quinta-feira (31).
A Heineken registrou queda de volumes em dígito baixo no Brasil, uma recuperação em relação ao primeiro trimestre, quando a retração foi mais acentuada. A empresa também mencionou ajustes pontuais nos estoques do varejo e um ambiente de consumo mais fraco, o que explicaria uma queda na receita líquida acima da redução nos volumes, indicando pouco avanço em preços e mix de produtos.
Analistas do Itaú BBA interpretam esses números como indicativo de uma queda em torno de 2,5% nos volumes da Ambev no período — uma previsão otimista dentro da faixa esperada pelo mercado, entre -2% e -4%. O banco ressalta que dados de produção do IBGE, que mostraram alta de 3,3% em bebidas alcoólicas, podem superestimar a realidade devido à redução de estoques apontada pela Heineken.
O ambiente competitivo no primeiro semestre foi marcado por defasagem nos reajustes de preços entre as principais concorrentes. A Ambev teria antecipado aumentos, o que possivelmente afetou sua participação de mercado. Por outro lado, o reajuste de cerca de 6% promovido pela Heineken em julho é visto como um movimento que pode equilibrar a disputa a partir do terceiro trimestre, em um momento em que a Ambev busca compensar a alta de 5,5% a 8,5% nos custos de produção projetada para 2025.
O Itaú BBA destaca ainda o aumento da capacidade produtiva da Heineken com a nova fábrica em Passos (MG), que deve acrescentar 5 milhões de hectolitros, o que adiciona pressão competitiva em um cenário de possível desaceleração do consumo diante da inflação dos alimentos.
Do lado do Bradesco BBI, a leitura dos resultados da Heineken foi mais cautelosa, especialmente quanto aos volumes, reforçando uma visão negativa para a Ambev. O BBI observa que a Heineken teve crescimento em volumes no 2º trimestre após ajustes de estoques, com avanço significativo em participação de valor.
No segmento mainstream, principal área da Ambev, a marca Amstel acelerou o crescimento para cerca de 15% no primeiro semestre, embora parte desse resultado possa estar relacionada a bases de comparação mais favoráveis. No segmento premium, a Heineken mantém sua tendência de premiumização, mas o crescimento da marca principal foi moderado, sugerindo estagnação da vantagem competitiva.
A mudança no discurso da Heineken, que passou a descrever o mercado como estagnado e desacelerando após projeções otimistas iniciais, reforça o risco de que a Ambev possa registrar queda nos volumes além do esperado. No aspecto de preços, a Heineken anunciou aumento de 6% em julho, aguardando a reação da Ambev para ajustar sua estratégia, o que pode limitar ganhos de curto prazo.
Com o aumento da capacidade produtiva em Passos, a Heineken sinaliza que o setor terá menos espaço para reajustes adicionais de preços no futuro próximo.
Diante desse cenário complexo, o Bradesco BBI mantém recomendação neutra para Ambev, com preço-alvo de R$ 12, e destaca o limitado espaço para revisões positivas no desempenho da empresa em 2025.
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