Impasse comercial entre EUA e União Europeia aumenta e retaliações entram no radar

 


Mais de uma semana após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar novas tarifas de até 30% sobre produtos importados da União Europeia (UE), as negociações para um acordo ainda não avançaram. A expectativa inicial de um entendimento rápido entre Washington e Bruxelas deu lugar a incertezas crescentes e à possibilidade de novas medidas de retaliação por parte do bloco europeu.

Propostas não avançaram

Nesta terça-feira (22), Maria Irene Jordão, analista global da XP, comentou durante o programa Morning Call que as conversas entre os dois lados pouco evoluíram desde o anúncio do tarifaço. Segundo ela, embora algumas alternativas tenham sido colocadas na mesa, como cortes de tarifas para veículos europeus em troca de uma redução de tarifas americanas, não houve consenso.

“A Europa chegou a propor cortes de tarifas de importação de veículos caso os Estados Unidos diminuíssem a sua própria tarifa para veículos europeus”, afirmou Jordão. A proposta, porém, não encontrou terreno fértil em Washington, onde o governo Trump vem endurecendo o tom contra parceiros comerciais em diversas frentes.

Tarifa pode ser menor, mas incerteza permanece

De acordo com a analista, durante o último fim de semana, chegou a circular a possibilidade de a tarifa máxima de 30% ser reduzida para uma faixa de 15% a 20% sobre todos os produtos europeus. A sinalização teria vindo de setores mais moderados dentro do governo americano, mas não há confirmação oficial.

“Mas nada é certo ainda”, disse Jordão, ressaltando que o mercado aguarda uma posição mais clara da Casa Branca sobre a possibilidade de uma escalada tarifária mais agressiva. Enquanto isso, empresas exportadoras na Europa acompanham com cautela cada sinal vindo de Washington.

UE pode retaliar setor de serviços

Caso não haja acordo, a União Europeia já discute internamente medidas de retaliação comercial. A ideia, segundo Jordão, é mirar justamente um segmento que, até agora, tem escapado das disputas comerciais: os serviços.

Entre os alvos potenciais estão big techs e empresas de tecnologia americanas, que têm participação expressiva no mercado europeu. “Serviços têm ficado de fora dessa turbulência e poderiam ser um alvo importante para a UE responder”, explicou.

Impactos econômicos ainda são limitados

Apesar do clima de tensão, os impactos econômicos das tarifas sobre a economia americana ainda não aparecem de forma clara nos indicadores. Segundo Jordão, os últimos dados divulgados mostram uma economia aquecida nos EUA, o que justificou uma reação mais moderada do mercado à primeira rodada de tarifas.

No entanto, a analista alerta que os efeitos podem surgir nos próximos meses, especialmente em relação à inflação. “A inflação nos EUA pode começar a dar sinais mais claros nas próximas divulgações sobre os efeitos das tarifas”, disse.

Olhos voltados para Trump

Enquanto isso, investidores, empresas e governos europeus aguardam novos movimentos de Trump, conhecido por usar tarifas como ferramenta de negociação em acordos comerciais. Para analistas, qualquer recuo ou endurecimento poderá gerar fortes impactos em mercados globais, sobretudo em setores automotivo, industrial e de tecnologia.

O cenário é de expectativa: ou um acordo que reduza tensões, ou uma escalada que poderá acirrar ainda mais a disputa entre EUA e União Europeia, com reflexos diretos para consumidores, empresas e cadeias globais de produção.


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