Indústria Brasileira Quer Missão aos EUA para Evitar Tarifa de 50%: Entenda a Estratégia

 


Em meio ao impasse diplomático entre Brasil e Estados Unidos, o setor industrial brasileiro deu o primeiro passo para tentar conter o avanço da tarifa de 50% sobre produtos nacionais. O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, anunciou nesta sexta-feira (25) a proposta de uma missão empresarial aos EUA, que deve acontecer nas próximas semanas.

A meta é clara: sensibilizar o setor produtivo norte-americano sobre os impactos da tarifa, evitar perdas bilionárias para a indústria brasileira e abrir espaço para soluções que vão além do debate político e geopolítico.


Missão empresarial quer diálogo direto entre companhias

Segundo Alban, o objetivo não é substituir as negociações oficiais, que seguem sob responsabilidade dos governos. A missão busca, na prática, criar pontes entre empresas brasileiras e norte-americanas, mostrando que a imposição de tarifas elevadas pode gerar prejuízos mútuos, afetando cadeias de produção, acordos comerciais e geração de empregos nos dois países.

Nosso papel é atuar como facilitadores, promovendo a convergência de entendimentos e criando uma mesa de negociações focada em interesses comerciais e econômicos, sem a presença política ou geopolítica do tema”, afirmou o presidente da CNI durante o Fórum Nacional das Indústrias, evento que reuniu 80 associações do setor para discutir ações conjuntas.


Setor produtivo teme impactos severos

A proposta da CNI surge em um momento de alerta máximo para a indústria brasileira. Se confirmada, a tarifa de 50%, anunciada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, pode gerar prejuízos significativos, com projeções de perda de mais de 100 mil empregos e retração de 0,2% no Produto Interno Bruto (PIB), segundo cálculos internos do setor.

Além dos impactos diretos sobre a competitividade, a medida pode desorganizar cadeias de suprimentos integradas entre os dois países, já que muitos produtos brasileiros abastecem empresas norte-americanas em diferentes segmentos — da indústria automotiva à de tecnologia.


Entendimento fora da esfera política

Com a missão, a CNI aposta na força do lobby empresarial bilateral. A expectativa é mobilizar multinacionais que dependem de fornecedores brasileiros e podem pressionar Washington a reconsiderar a imposição das tarifas. O setor acredita que mostrar os efeitos práticos para fábricas e empregos nos EUA pode ser mais eficaz do que uma argumentação puramente diplomática.

A proposta também tenta isolar o tema de disputas políticas envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro — ponto sensível citado por Trump ao vincular a tarifa ao processo judicial do ex-mandatário. Para Alban, é essencial manter o debate centrado em dados econômicos e comerciais, longe de disputas eleitorais ou partidárias.


Mobilização começa nas próximas semanas

O cronograma ainda não foi detalhado, mas a CNI pretende reunir representantes de empresas exportadoras brasileiras, além de parceiros americanos, para encontros com associações industriais, grandes compradores e autoridades econômicas locais. A missão deve focar em setores mais vulneráveis, como siderurgia, agronegócio e indústria de transformação.

Enquanto isso, o governo brasileiro segue tentando destravar o canal diplomático, que ficou estagnado após uma contraproposta enviada em maio não ter resposta até o momento.


Momento é visto como decisivo

Para o setor produtivo, o cenário atual é um dos mais delicados dos últimos anos. Além de tarifas, empresas já relatam cancelamentos de contratos, redirecionamento de embarques para outros países e até planos para transferir operações para mercados alternativos, como México e Índia.

Se a missão empresarial terá força para virar o jogo ainda é incerto, mas o movimento revela uma tentativa clara de proteger exportações, empregos e competitividade — com menos política e mais pragmatismo comercial.

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