JPMorgan Alerta: Impacto das Tarifas dos EUA ao Brasil Pode Persistir e Reduzir PIB em Até 0,9%

 


Banco vê cenário de incerteza prolongada e alerta para risco de novas sanções e retaliações

A disputa comercial entre Brasil e Estados Unidos pode se prolongar muito além do prazo de 1º de agosto, quando está prevista a entrada em vigor da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, caso a ameaça feita pelo presidente Donald Trump se concretize. Em relatório divulgado nesta sexta-feira (25), o JPMorgan avalia que a incerteza sobre o futuro das tarifas deve se estender por meses, em razão de disputas judiciais e novas investigações que podem redefinir a base legal da medida.

De acordo com o banco, uma decisão crucial sobre o uso da Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional (IEEPA) — principal justificativa para o tarifaço de Trump — está marcada para 31 de julho, véspera do prazo oficial. Dependendo do resultado, a Casa Branca pode ser obrigada a encontrar novos mecanismos legais para manter as tarifas, o que abre caminho para mais processos e adiamentos.


Vários processos em curso

Além do possível revés na IEEPA, o governo Trump também abriu frentes paralelas, como investigações com base nas Seções 301 e 238, que podem fundamentar restrições adicionais ou novas rodadas de tarifas. Para o JPMorgan, a complexidade desses processos significa que o risco jurídico e econômico pode permanecer “por bastante tempo”, criando um ambiente de incerteza para empresas exportadoras e investidores.


PIB pode encolher até 0,9%

Mesmo sem considerar possíveis retaliações adicionais, o impacto direto da tarifa de 50% já seria relevante: segundo estimativas dos economistas do banco, o PIB brasileiro pode cair de 0,6 a 0,9 ponto percentual apenas por efeito da restrição comercial. O número é expressivo, mas ainda considerado administrável, desde que não haja escalada para outras frentes de sanções ou barreiras.

Caso surjam medidas complementares — como sanções comerciais, restrições a investimentos estrangeiros diretos (IDE) ou retaliações bilaterais mais severas —, o impacto poderia ser mais profundo, gerando uma desaceleração mais intensa da atividade econômica no Brasil.


Tarifa com motivação política

O relatório do JPMorgan destaca um aspecto que torna o caso brasileiro diferente de outros enfrentamentos comerciais da era Trump: o fator político. Ao vincular a tarifa à defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, Trump introduziu uma dimensão política que limita a capacidade de empresas americanas de pressionarem Washington para um recuo, prática que costuma acontecer quando cadeias produtivas locais são diretamente afetadas.

Para o banco, esse viés político torna a disputa mais imprevisível e frágil a eventuais mudanças no cenário eleitoral ou no ambiente institucional dos EUA.


Real resiliente, mas capital estrangeiro em fuga

Apesar do ambiente de risco, o JPMorgan ressalta que o real brasileiro tem mostrado força relativa, sustentado principalmente pelo diferencial de juros e pela atuação de exportadores que seguem vendendo moeda no mercado à vista. No entanto, o banco chama atenção para sinais de fuga de capital estrangeiro da B3 e para o aumento das posições vendidas no Ibovespa desde o início de julho, um indicativo de cautela dos investidores diante da escalada tarifária.


Efeitos nos EUA: inflação em alta

Do lado americano, o banco observa que os primeiros efeitos da guerra tarifária já começam a aparecer na inflação de bens, que chegou a 5,5%, acima da inflação geral. Para o JPMorgan, os impactos ainda são parcialmente mascarados por fatores pontuais, mas devem se tornar o principal vetor da pressão inflacionária nos próximos meses, caso as tarifas se consolidem.


Cenário incerto, mas sem pânico

Para o mercado, o diagnóstico do JPMorgan é claro: a incerteza vai além do calendário imediato. O risco é real e pode pressionar setores estratégicos da economia brasileira. Por outro lado, o banco avalia que o impacto, ainda que relevante, não é catastrófico, desde que o conflito não escale para um bloqueio comercial amplo ou sanções mais drásticas.

Enquanto isso, exportadores, governo e setor produtivo seguem tentando abrir caminhos para reduzir danos, seja por meio de acordos, missões empresariais ou rotas alternativas de exportação.

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