A 19ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgada nesta quinta-feira (24), revela que o número de Mortes Violentas Intencionais (MVI) no Brasil caiu 5,4% em 2024, alcançando 44.127 vítimas. Apesar da queda, o levantamento aponta sinais preocupantes: feminicídios, crimes sexuais e violência contra crianças seguem crescendo e batendo recordes.
De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), responsável pelo estudo, o MVI reúne homicídios dolosos, feminicídios, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte, mortes por intervenção policial e mortes de policiais. Desde 2018, o Brasil mantém uma tendência de queda nesse índice, atribuída à expansão de políticas públicas, programas de prevenção e mudanças demográficas. No entanto, bolsões de violência extrema persistem, especialmente no Nordeste.
Nordeste concentra as cidades mais violentas
Entre os municípios com mais de 100 mil habitantes, Maranguape (CE) lidera o ranking das cidades mais violentas do país, com taxa de 79,9 MVI por 100 mil habitantes, seguida por Jequié (BA) e Juazeiro (BA). Das 20 cidades mais violentas, a maioria fica entre Bahia, Ceará e Pernambuco.
Na comparação por estados, Amapá (45,1), Bahia (40,6) e Ceará (37,5) têm as maiores taxas de homicídios. Já São Paulo (8,2), Santa Catarina (8,5) e Distrito Federal (8,9) aparecem como os mais seguros. No recorte regional, Norte (27,7) e Nordeste (33,8) seguem com índices acima da média nacional de 20,8 por 100 mil habitantes.
Feminicídios batem recorde
Apesar da redução geral da violência letal, os feminicídios subiram 0,7%, alcançando 1.492 casos, maior número da série histórica iniciada em 2015. A maioria das vítimas era negra (63,6%), com idade entre 18 e 44 anos (70,5%), morta por companheiros ou ex-companheiros (80%) e dentro de casa (64,3%).
Além disso, o número de tentativas de feminicídio cresceu 19%, com 3.870 casos, enquanto crimes como stalking (+18,2%) e violência psicológica (+6,3%) também avançaram.
Violência contra crianças e crimes sexuais também sobem
A violência contra crianças e adolescentes aumentou 3,7%, somando 2.356 mortes violentas de jovens de até 17 anos. Crimes como abuso sexual infantil (+14,1%), abandono de incapaz (+9,4%) e maus-tratos (+8,1%) também registraram alta.
O país também bateu recorde de estupros: foram 87.545 registros, o maior número desde o início do monitoramento. Destes, 76,8% foram estupros de vulnerável. A cada seis minutos, uma mulher é estuprada no Brasil. Na maioria dos casos, o agressor é familiar (45,5%) ou parceiro/ex-parceiro (20,3%).
Letalidade policial volta a crescer
Outro dado de destaque é a letalidade policial. Em 2024, 6.243 pessoas foram mortas pelas polícias, o equivalente a 14,1% de todas as mortes violentas. Em São Paulo, o aumento foi de 61%, impulsionado por operações na Baixada Santista e pela suspensão de câmeras corporais.
Entre os estados, as polícias do Amapá (17,1 mortes por 100 mil habitantes), Bahia (10,5) e Pará (7,0) foram as mais letais.
Desafios persistem
Para o FBSP, os números mostram avanços importantes na redução da violência letal, mas alertam para novos desafios, como o crescimento de crimes contra mulheres, crianças e a alta dependência de ações policiais letais, que seguem impactando comunidades vulneráveis.
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