Por que Bangladesh vai gastar bilhões com aviões da Boeing para escapar de Trump?

 


Em meio à escalada de tensões comerciais com os Estados Unidos, Bangladesh decidiu agir para evitar uma crise no seu setor de exportações — principalmente na indústria de vestuário, responsável por grande parte das vendas ao mercado norte-americano. Para isso, o país anunciou neste domingo (27) a expansão de um grande pedido de aeronaves à Boeing, além de um pacote de aumento nas importações de produtos agrícolas norte-americanos.

De acordo com Mahbubur Rahman, secretário de Comércio de Bangladesh, o governo elevou de 14 para 25 o número de aviões encomendados da fabricante americana. O objetivo é não apenas modernizar a frota do país nos próximos dois anos, mas também sinalizar disposição para reduzir o déficit comercial de aproximadamente US$ 6 bilhões que os EUA mantêm em relação a Bangladesh.

“Precisamos de novas aeronaves com urgência, possivelmente nos próximos dois anos”, afirmou Rahman em conversa com jornalistas. O secretário explicou que o aumento do pedido de aeronaves faz parte de um pacote maior de medidas para conter a ameaça de tarifas de até 35% sobre produtos de Bangladesh, que Donald Trump prometeu aplicar a partir de agosto, caso não haja concessões comerciais.

Além dos aviões, o governo bangladeshiano acertou um novo acordo para ampliar de forma significativa a compra de produtos agrícolas dos EUA. Entre os principais itens, destacam-se trigo, óleo de soja e algodão — matérias-primas fundamentais para a indústria têxtil, responsável por uma fatia relevante da economia do país. Só em trigo, Bangladesh importará 700 mil toneladas anuais durante os próximos cinco anos, conforme o novo compromisso assinado no início de julho.

As medidas são vistas como uma resposta direta às pressões de Washington. O governo Trump, que recentemente fechou acordos semelhantes com países como União Europeia, Japão, Vietnã, Indonésia e Filipinas, vem usando as tarifas como moeda de troca para obter vantagens comerciais e abrir mercados para produtos e empresas norte-americanas.

No caso de Bangladesh, o temor é que a imposição das tarifas coloque em risco a competitividade da sua indústria de vestuário — a segunda maior do mundo, atrás apenas da China — em um dos seus principais destinos de exportação. Segundo dados oficiais, o setor emprega milhões de pessoas no país e responde por mais de 80% das exportações totais.

O novo pacote de importações e o aumento do pedido de aeronaves são uma tentativa de suavizar as relações bilaterais e convencer o governo norte-americano a reavaliar a tarifa de 35% que ameaça desestabilizar uma fatia expressiva da economia local.

Apesar do esforço de Dhaka, ainda não está claro se Washington aceitará suspender ou reduzir as tarifas. No domingo, Trump reiterou que seu governo não pretende adiar prazos e que quer resultados concretos para reduzir déficits e estimular o consumo de produtos americanos.

A indústria bangladeshiana, por sua vez, acompanha o impasse com apreensão. Empresários temem que, sem um acordo firme, o setor perca pedidos para concorrentes diretos na Ásia. Para especialistas, a única alternativa viável para Bangladesh neste momento é reforçar laços comerciais com os EUA e diversificar ainda mais suas importações.

Com o prazo final de 1º de agosto se aproximando, o governo bangladeshiano intensifica as negociações na esperança de evitar uma barreira tarifária que poderia custar bilhões de dólares e empregos num dos setores mais estratégicos do país.

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