Plataforma alega “exigência legal”, mas governo indiano nega envolvimento e caso levanta debate sobre censura digital
Desde o último sábado (5), usuários do X (antigo Twitter) na Índia não conseguem mais acessar a conta oficial da Reuters News, uma das maiores agências de notícias do mundo. A plataforma justificou a suspensão com base em uma “exigência legal”, mas o caso logo se transformou em um mistério diplomático e reacendeu o debate sobre liberdade de imprensa e censura digital no país asiático.
A conta afetada tem mais de 25 milhões de seguidores no mundo todo e segue ativa em outras regiões. Apenas na Índia, ela aparece como “retida em resposta a uma demanda legal”. A surpresa aumentou quando o próprio governo indiano negou ter feito qualquer pedido de suspensão. Um porta-voz do Press Information Bureau afirmou: “Não houve nenhuma exigência por parte de qualquer agência do governo da Índia para reter a conta da Reuters. Estamos trabalhando com o X para resolver o problema”.
Silêncio e especulações
A Reuters também divulgou um comunicado, dizendo que está em contato com a plataforma para “resolver o assunto e restabelecer a conta o mais rápido possível”. Já a rede X, que pertence a Elon Musk, não respondeu aos pedidos de esclarecimento. A Reuters World, outra conta da agência, também aparece bloqueada no país.
A agência britânica informou ainda que não conseguiu descobrir qual conteúdo gerou a queixa, tampouco qual entidade apresentou a demanda. A única pista veio de um e-mail enviado pelo X à equipe de mídia social da Reuters em 16 de maio, informando sobre uma solicitação legal feita por uma “entidade autorizada”, como uma agência governamental. O e-mail não especificava o conteúdo alvo da reclamação, nem o autor do pedido.
No e-mail, a plataforma alertava: “Para cumprir as leis locais da Índia, bloqueamos sua conta conforme a Lei de Tecnologia da Informação de 2000; o conteúdo permanece acessível fora da Índia”.
O que diz a lei indiana?
A legislação mencionada — a Lei de Tecnologia da Informação — permite que o governo solicite a remoção ou bloqueio de conteúdo publicado em redes sociais se ele for considerado uma ameaça à ordem pública, à segurança nacional ou se violar normas locais. Porém, a ausência de transparência nas decisões tem gerado críticas crescentes de organizações de mídia e defensores de direitos digitais.
A situação ganhou novos contornos porque o Ministério da Informação e Radiodifusão da Índia também não comentou oficialmente o caso. O nome citado como responsável pelo contato — o secretário Sanjay Jaju — não respondeu aos pedidos de esclarecimento da imprensa.
Um histórico conturbado
O X já travou embates com o governo indiano em ocasiões anteriores. Em março, por exemplo, a empresa entrou com um processo contra uma nova plataforma oficial do governo, que, segundo o X, amplia excessivamente os poderes de censura e permite que múltiplos funcionários solicitem a remoção de conteúdo sem supervisão judicial adequada.
Na visão do governo, no entanto, a ferramenta apenas permite notificar empresas de tecnologia sobre conteúdos considerados ofensivos ou ilegais — o que o X teria “rotulado erroneamente como portal de censura”.
Por ora, a conta da Reuters continua inacessível na Índia — e o motivo oficial continua envolto em silêncio e incerteza.
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