Tic-tac, tic-tac. O som dos ponteiros do relógio parece ecoar cada vez mais alto para o Brasil, à medida que o dia 1º de agosto se aproxima — data em que entra em vigor o tarifaço prometido pelo governo Donald Trump. Enquanto o presidente norte-americano sinalizou que as novas tarifas globais devem ficar na faixa de 15% a 20%, a alíquota de 50% direcionada às exportações brasileiras soa como um recado duro para Brasília e um baque imediato para o mercado.
Sem sinais claros de avanço nas negociações, o Ibovespa amargou nesta segunda-feira (28) sua terceira queda seguida, recuando 1,04% para 132.129,26 pontos — uma perda de quase 1.400 pontos em apenas um pregão. O movimento negativo foi acompanhado de baixo volume: apenas cerca de 1 milhão de negócios realizados, mostrando um investidor cauteloso e, em parte, paralisado pelo medo do impacto comercial.
O dólar, por sua vez, voltou a ganhar força frente ao real, subindo 0,52% para R$ 5,590, e chegou a ultrapassar R$ 5,60 na máxima do dia. Já os juros futuros, os DIs, caíram em toda a curva — reflexo da expectativa sobre a reunião do Copom nesta semana, quando será decidido o rumo da Selic, e também do aguardado encontro do Federal Reserve, nos Estados Unidos, que ocorre na mesma chamada “Super Quarta”.
Negociações emperradas e relógio correndo
O grande dilema: há tempo hábil para um acordo antes de sexta-feira? Até o momento, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, segue sem confirmação de reunião com Trump. Em nota, o Ministério do Desenvolvimento reafirmou que o Brasil “seguirá aberto ao diálogo”, mas reforçou que a soberania nacional é inegociável.
Enquanto isso, em outras frentes, os EUA e a União Europeia selaram um entendimento que reduziu tarifas, embora o pacto tenha desagradado pesos-pesados do bloco, como a França, que classificou o dia como um “marco sombrio” para a Europa. Em paralelo, há expectativa de avanços com a China, com rumores de uma cúpula entre Trump e Xi Jinping ainda neste ano.
No Brasil, senadores em missão oficial nos EUA tentam viabilizar um telefonema direto entre Lula e Trump. Até agora, sem sucesso. Lula, por sua vez, discursou no Rio pedindo “reflexão” de Trump sobre a importância do Brasil — um apelo que dificilmente ecoará na Casa Branca neste estágio do jogo.
Notícias positivas, mas clima é de tensão
Nem tudo é tempestade. O Brasil saiu novamente do Mapa da Fome da ONU, com menos de 2,5% da população em insegurança alimentar grave. Além disso, o Boletim Focus revisou para baixo as expectativas do IPCA pela nona semana consecutiva, e o dólar também recuou na projeção de mercado. Mas o Tesouro Nacional lembrou que a dívida pública federal subiu 2,77% em junho.
No pregão, as ações de Vale caíram 0,97% e os grandes bancos derreteram: Itaú Unibanco perdeu 2,10% e B3 despencou 2,83%. A Petrobras salvou o dia, subindo 0,13% na esteira do petróleo. Mas o sentimento geral é de cautela máxima.
Enquanto isso, investidores aguardam resultados do segundo trimestre de gigantes como Vivo, TIM, Bradesco, Santander e Ambev — e torcem para que boas surpresas ajudem a aliviar o clima pesado.
Seja como for, resta saber se é melhor o relógio correr logo e resolver o impasse ou torcer para que os ponteiros andem devagar. Tic-tac.
Comentários
Postar um comentário